Baseado nos mangás Kuuki Ningyou de Yoshiie Goda, em primeiro momento, Air Doll pode parecer apenas mais um filme louco e fantasioso, bem típico do cinema japonês, mas a obra dirigida por Hirokazu Koreeda se revela muito além das aparências e traz consigo uma crítica atualíssima sobre a vivência (ou não) do ser humano.
Hideo (Itsuji Itao) possui uma boneca inflável, chamada por ele de Nozomi, qual é tratada como uma verdadeira esposa ao cuidar dela, vesti-la adequadamente, conversar sobre diversos assuntos e mesmo ter relações sexuais - nela, encontrou a companhia que faltava em sua vida sem graça. Nozomi (Bae Doona) encontra um coração, ganha vida e, enquanto Hideo trabalha, sai pelas ruas com suas roupas de empregada.
Air Doll é bem remetente ao Hikikomori, termo japonês que designa um comportamento de extremo isolamento doméstico onde a pessoa se retira da sociedade para evitar contato com outros humanos. Tocante e cada vez mais atual, critica tanto aos nossos relacionamentos (ou, principalmente, a falta deles) com outros de nós, quanto a ausência de sentido em nossas vidas, o quanto existimos, mas deixamos de viver.
No ponto de vista de quem nunca havia sentido nada, deparar-se com todas os sentimentos humanos e encarar a verdade de nosso mundo será algo tão bom assim? Qual o psicológico da personagem ao ter que enfrentar tal situação? Tristeza, felicidade, amor, como lidar, neste momento, com uma realidade que, até poucos dias atrás, era inexistente para ela?
Sua consciência, graças ao modo que percebe a sua inserção no mundo, é tão humana quanto a de qualquer outro que vive (ou ao menos existe) próximo a ela. Seu questionamento e descontentamento é um discurso válido para todos que recusam-se a serem vítimas de um pensamento comandado e passam a pensar e agir por si mesmos, de acordo com os seus próprios valores.
Ao deparar-me com sinopse tão convidativa, impossível deixar de lado a oportunidade de prestigiar tal obra. Sem os exageros costumeiros de live-actions, este filme nipônico apresenta a história com uma fotografia muito rica e um jogo de câmeras bem feito, itens essenciais para o bom aproveitamento da narrativa, visto que seus principais pontos estão presentes nos detalhes - atenção não pode faltar.
As transformações de boneca à humana e vice-versa dependem tanto do desempenho da atriz quanto das técnicas e nisso, Doona mostra grande relevância a cada passo, expressão e movimento. A coreana confirma a imagem que havia me passado ao primeiro contato com seu trabalho, no seriado Sense8 - qual me levou a conhecer este filme de 2009.
Em soma, o resultado final da versão cinematográfica é positivo e recomendável, tanto por qualidade visual, quanto pela crítica nele imersa ou mesmo pela excelente atuação de Bae Doona em um papel tão fora do comum.
Você será mais uma boneca no mundo ou irá encontrar um sentido para a sua existência?
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