Death Note é um dos maiores animes de todos os tempos. Se você sabe pelo menos o mínimo sobre animações japonesas provavelmente já ouviu falar deste título, mesmo que nunca o tenha assistido. Baseado no mangá homônimo, ganhou popularidade internacional a partir de 2006, quando sua versão animada chegou para a alegria de todos.
O sucesso repercutiu em diversas outras mídias, como filme, dorama, light novel e até mesmo musicais. Em 2016, quando as notícias de um possível live-action produzido pela Netflix começaram a ser disseminadas, fãs ao redor do mundo ficaram ansiosos, tendo em vista o histórico de qualidade que a empresa possui. Entretanto, o resultado final não agradou a (esmagadora) maioria.
O motivo? A discrepância entre o filme e a obra original.
Longe do território japonês, o estudante Light (não mais Yagami, mas Turner), de Seattle, encontra um caderno velho com "Death Note" gravado em sua capa de couro. Ao abri-lo, depara-se com as regras a respeito de seu uso que, resumidamente, dá ao seu portador o poder de matar qualquer pessoa apenas por escrever seu nome nas páginas.
Agora, passa a utilizá-lo para matar criminosos que não foram devidamente punidos, mas após uma série de mortes misteriosas a polícia une-se a um detetive enigmático para tentar descobrir o paradeiro do justiceiro que segue pelo nome de Kira.
Até aí até que tudo bem, né? Bem parecido com o anime, uma alteração no sobrenome do protagonista, nada demais... mas assim que Nat Wolff (conhecido por sua participação em "Cidades de Papel") é anunciado como o escolhido para interpretar Light, começa o "rebuliço" na internet: um americano? Americanização? Embranquecimento? Mas não, não é nada disso. É adaptação. Ou melhor, releitura.
A mudança de ambiente e etnias são apenas duas das diferenças. A personalidade dos personagens (incluindo o protagonista) faz-se muito diferente do original, assim como o amadurecimento, os acontecimentos e alguns fatos que envolvem a história. Muita coisa é diferente, mas é tudo aparentemente bem pensando para trazer Death Note a um novo e arriscado âmbito, embora a essência continue ali.
Em entrevista, o diretor Adam Wingard explicou que o distanciamento do anime foi proposital. Tanto ele quanto os outros envolvidos nesta produção provavelmente sabiam o barulho que essas mudanças iriam causar, mas arriscaram mesmo assim. Pelo menos ao meu ver, valeu a pena - e se os próprios criadores da saga deram a bênção para a Netflix produzir esta versão, quem sou eu para discordar?
Entretanto, analisando os comentários que estão rolando pela internet desde seu lançamento na última sexta (25), a maioria discorda. Mas uma coisa que aprendi quando comecei a frequentar esse universo de cinema, televisão e obras literárias foi que mudanças existem e são necessárias em adaptações para novas mídias. Adaptar não é só reproduzir tudo em sua forma mais fiel, apenas carregar o conteúdo de um livro para um filme, por exemplo, mas sim pegar a essência do enredo e deixar a mágica acontecer.
"Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton passa longe da história original de Lewis Carroll e nem por isso deixa de ser um bom filme, com seus erros e acertos: há quem goste do novo universo, há quem não goste (afinal, são conteúdos diferentes e que podem não agradar nas mesmas proporções, obviamente), mas não há como negar que emana o fundamento de Alice: o sonho. O mesmo acontece com a versão de Death Note da Netflix e o desejo fúnebre por uma falsa justiça que advém do anime, do mangá, do dorama e de qualquer outra mídia por qual já tenha passado.
Nosso Kira, agora, pode não ter aquela personalidade fria que era sua principal marca nas adaptações anteriores, mas o seu novo conceito também não é ruim. Ver um lado mais humano e limitado de um justiceiro pode não ser o que os fãs desejavam, mas qual a necessidade de ficar trazendo sempre mais do mesmo? Se alguém tem a criatividade de poder mudar traços em uma histórica tão acentuada como essa sem alterar o seu verdadeiro significado, esse alguém merece o meu respeito.
Transformar 37 episódios em um longa de 100 minutos de duração deixaria muita coisa de lado, e de fato deixou. Os acontecimentos seguem rápidos, com um certo ar de precocidade, dinamismo, e no caminho muitas das minhas cenas preferidas do anime foram deixadas de lado, assim como alguns personagens que eu adorava muito, mas não consigo nem reclamar depois de ver o como eles conseguiram lidar com esse problema de tempo, fazer todas transformações que o diretor queria e ainda manter vivo o espírito da coisa.
Não, não estou dizendo que é melhor que o anime. O anime é praticamente uma entidade divina e intocável, perfeita como é, mas isso não anula as chances de suas adaptações conseguirem atingir um nível alto de qualidade. E esta sua nova cara é ótima. Traz seu sentido original, adiciona novos, retira alguns, tem vocação. Queria muito poder falar em detalhes, mas seria spoiler.
Mas é preciso assistir de mente aberta.
Se você for assistir esperando uma cópia exata do que aconteceu nos episódios da animação ou nas páginas do mangá, esquece. Você vai odiar, vai sair xingando muito no Twitter, vai querer até mesmo cancelar a sua assinatura na Netflix por ela ter sido capaz de fazer isso com o sagrado Death Note. Aproveite essa oportunidade para desenvolver a capacidade de separar a adaptação de sua obra original e você terá bons momentos assistindo ao filme.
6 Comentários
Death Note está na minha lista há bastante tempo, ainda não tive a oportunidade de assistir mas tenho muita vontade! Agora confesso que tenho um certo medo de ver o filme, viu muita gente reclamando e outras falando bem então...
ResponderExcluirEu até gostaria de dar minha opinião, mas como não assisti ainda esse é o máximo que posso fazer. Espero ainda no futuro debater bastante sobre esse assunto meio polêmico e saber mais da opinião dos outros, acho esse tipo de discussão bem legal, com respeito é claro.
Se você ainda não assistiu ao anime, aproveita para ver o filme antes. A maioria das críticas estão sendo em relação a divergência com o conteúdo original (apesar de, como disse no post, essa foi a intenção dos produtores da adaptação o tempo todo), mas assista ao filme para ter a sua opinião, é interessante participar desses debates polêmicos - sempre com muito respeito, como você disse.
ExcluirEu fui uma das maiores defensoras desse filme, insistia que era uma adaptação, que eles podiam mudar a história e ainda fazer algo bom. Pra mim o problema foi a descaracterização dos personagens. Light não é inteligente, nem frio e calculista. L teve movimentos bem coreografados, que lembravam o L do anime, mas fora isso não passa de um adolescente impulsivo. Mia se mostrou mais fria e manipuladora, o que deveria ser característica do Light. Ryuk omisso? Não, nem de perto. O fato é que não mudaram só a história, mas também as características que faziam os personagens serem memoráveis. Poderia ter sido bom, mas ficou feio. :c
ResponderExcluirRealmente esperava mais. Achava dificil estragarem death note, mas pelo visto não era.
Depois do que escrevi no post, acho que já deu pra perceber que eu discordo do que você disse. Não acho que a mudança dos personagens importe, tendo em vista que os princípios da trama continuaram basicamente os mesmos.
ExcluirEnfim, podemos ter opiniões diferentes e continuar tudo numa boa. <3
Olá, tudo bem? Olha, entendo o seu ponto de vista, mas pelo que li o filme tirou a essência de Death Note. Já havia dito no meu blog que não iria ver por justamente isso, sei que adaptações e releituras nem sempre precisam ser fieis ao original, mas tiraram o que tornava Death Note tão bom. Vou usar a nova adaptação japonesa como exemplo, pois tem personagens novos e um contexto diferente, ainda que não tenhamos L e nem o Kira, a historia conseguia passar as mesmas sensações que o original e nos cativar com os novos personagens
ResponderExcluirhttp://www.meioassimetrica.com.br/
Olá, tudo bem sim, e contigo?
ExcluirTambém entendo seu ponto de vista, mas continuo defendendo o meu. Não acho que a adaptação tirou essência de Death Note. Os personagens estão bem diferentes, sim, mas continuo sentindo aquela sensação sinistra de Death Note. Por exemplo, o Kira pode não ser mais aquele poço de frieza, mas essas características não ficaram ausentes no filme, só foram transferidas para a Mia e gostei de ver uma personagem secundária sendo mais "forte" que o protagonista, que demonstrou fraquezas em relação às consequências que o uso do caderno traria.