Toast (conhecido no Brasil como "A História de Uma Criança com Fome", por mais que esse título não faça o menor sentido com o conteúdo da trama) é uma telebiografia dramática que conta sobre a infância e adolescência de Nigel Slater, um escritor que cozinha e um cozinheiro que escreve, que desde cedo descobriu sua afinidade com o universo da gastronomia e superou barreiras para a realização de um sonho.
Situado na década de 1960, mostrará os acontecimentos da vida de um rapaz que perdeu a mãe muito jovem e teve que lidar com as dificuldades em relacionar-se com o pai e a madrasta ao longo dos anos seguintes, abraçando a culinária como guia para se expressar e vencer as limitações que lhe eram impostas.
Nas críticas depositadas pela internet, nota-se uma grande quantidade de pessoas classificando o protagonista como mimado, julgando-o pelo modo em que se comporta diante ao pai e a madrasta. Discordando de tais comentários a seu respeito, acredito que estes espectadores acabaram dormindo em alguma parte do filme para não perceber que mimado é um adjetivo que de modo algum cabe a ele.
Nigel nunca foi próximo de seu pai, e o relacionamento entre os dóis só piorou após a falecimento de sua mãe quando, ainda muito novo, teve que lidar com a presença de uma nova mulher que disputava com ele o amor do homem e que, apesar de cozinhar muito bem, não se esforçou em nenhum momento para criar laços afetivos com a criança, provocando-o o tempo inteiro como se, de fato, não quisesse que o garoto tivesse espaço dentro daquela casa ou do coração de seu próprio pai.
O homem, por sua vez, seguiu a risca o famoso e clichê termo "cegamente apaixonado", afastando cada vez mais o filho de si e dando todo seu amor unica e exclusivamente à nova mulher, inclusive mudando-se para uma região afastada sem sequer consultar ou, no mínimo, avisar previamente o garoto para que ele pudesse despedir-se de seus amigos.
Na nova escola, entretanto, consegue amadurecer e encontrar um caminho rumo aos seus sonhos. Era o único garoto a se interessar pelas aulas de culinária, relembrando estereótipos preconceituosos da época em que se passa a história. O enredo, mesmo que com pouquíssimo enfoque, toca ainda no desenvolvimento do coração do jovem rapaz, que descobria singelamente sua sexualidade enquanto estudava e trabalhava.
O desinteresse do pai pelo seu filho aumentava na mesma medida em que o garoto envelhecia. Pouco se importava com as conquistas de Nigel, como se fosse insignificante ver um garoto que cresceu sem a mãe amadurecer tão sabiamente e adquirir sua independência ainda na adolescência. E embora cansado de tentar alcançar a atenção e seu progenitor, não desistia, tentando conquistá-lo pelo estômago - e tendo suas expectativas cruelmente massacradas por uma madrasta que, a todo custo, evitava que essa proximidade acontecesse.
Como julgar por rebeldia o comportamento incompreendido de uma criança que teve de crescer nestas circunstâncias? Nigel nunca fez mal a ninguém, muito pelo contrário, sofreu calado por muito tempo, encontrando na gastronomia uma fuga de sua realidade, entrando em contato com um eu interior que escondia-se em si desde a infância, quando demonstrava os primeiros sinais de interesse pela culinária, ao extremo oposto dos pais, como um verdadeiro dom ou presente.
E, quando não se viu mais preso a nada, em vez de ficar trancado no quarto e chorar as mágoas vivenciadas em sua vida, correu atrás de seu sonho, provando que a pouca idade em nada combinava com a experiência que tinha, que em nada o impediria de expor seu talento ao mundo e tornar-se o internacionalmente famoso Nigel Slater, digno de uma bela telebiografia mesmo com alguns exageros. "Esse filme foi baseado em memórias de infância. Embora inspirado em uma história real, alguns eventos e personagens foram inventados ou adaptados para efeito dramático", de acordo com o letreiro exibido segundos antes do filme começar.
Nigel foi interpretado por dois atores diferentes ao longo do filme, sendo na primeira parte o ator mirim OScar Kennedy, que realizava sua estreia em filmes, e na segunda parte, já mostrando-o em sua adolescência, Freddie Highmore assumiu o papel. Ambos fizeram um trabalho surpreendentemente bom, principalmente o mais novo, considerando a pouca idade e experiência nula.
Helena Bonham Carter rouba a cena como a madrasta má, Mrs. Potter, que fora das telas leva o nome de Dorothy Perrens, mas que teve uma ótima adaptação para sua personagem no filme, visto que a atriz interpretou a personagem Bellatrix nos filmes da saga Harry Potter. Proposital, eu diria. O papel do pai ficou sob responsabilidade do escocês Ken Stott, e o próprio Nigel ainda fez uma breve aparição ao fim do longa.
Além do bom roteiro escrito por Lee Hall e Nigel Slater, a produção do audiovisual não deixa a desejar. Lançado em 2010, cinquenta anos após a década na qual é ambientado, consegue transportar o sentimento da época com as vestimentas escolhidas a dedo e cenários bem recriados, como as bem pensadas prateleiras do mercadinho que nos guia diretamente o vício de enlatados daquele tempo, importantíssimos para o desenvolvimento do protagonista.
Um merengue de limão possui mais significado do que você pode imaginar.
3 Comentários
não assisti o filme todo , mas gostei da pouca parte que vi
ResponderExcluirEsse filme é incrível, quando tiver a oportunidade de vê-lo por inteiro, por favor, assista. Impossível se arrepender!
ExcluirNão consegui ver a madastra como uma pessoa má, eram apenas conflitos familiares, e ele pra mim, foi mimado sim.
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