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Quero ser mais Miss Sunshine


Ok, o dia das crianças já passou, mas acho que ainda dá tempo de conversar um pouco sobre o que essa data me fez parar para pensar nesse ano: não em como algumas coisas não mudaram desde a época em que eu realmente podia pedir presentes para comemorar a data, e como hoje, aos 19 anos, continuo a pedir, mas em como alguns aspectos de fato mudaram com o passar dos anos, infelizmente.

Criança é um bicho inocente, na maioria das vezes pelo menos, mas nesse caso sim. Desde sempre eu fui a garotinha gordinha e desengonçada. Ainda sou. Mas naquela época eu não percebia isso. Não me importava de ser vestida com roupas que destacavam o tamanho da minha barriga, de correr e brincar por aí sem sentir vergonha do meu peso, porque a única vergonha que eu tinha naquela época era de falar com desconhecidos - coisa que tenho até hoje, para ser sincera.

Lembro, inclusive, de um caso quando estava na quarta série, em que rolou um desfile de moda organizado pela escora e descaradamente participei ao lado de garotas magras, bonitas e bem arrumadas. Eu, gorda e não-tão-bem-vestida-assim, na época não me importava com isso, só queria me divertir com as minhas amigas - e elas também não davam a mínima para o meu excesso de peso. Ou pelo menos não demonstravam isso.

Era tipo a Olive do filme Pequena Miss Sunshine, que participou de um concurso de beleza mesmo estando completamente fora do padrão das outras meninas concorrentes. Eu não ganhei, nem ela ganhou, mas nós nos divertimos muito fazendo isso e foi essa a memória que ficou. Eu só queria ser feliz e era. Essa coisa de ligar pro tamanho da barriga não existia até então. Mas, conforme a gente cresce, a inocência e pureza vai escorrendo pelo ralo do banheiro e você começa a se importar com coisas que não deveriam ser tão importantes assim.

"Está tudo bem em ser magra, está tudo bem em ser gorda, se isso é o que você quer ser.
O que quer que você queira, está tudo bem."
Hoje, em 2017, alguns centímetros mais alta e mais madura que antigamente, meu peso acabou sendo distribuído melhor pelo corpo, mas ainda tenho aquela barriga sem graça - e, agora, a bendita me incomoda. Que dificuldade encontrar uma camiseta/vestido que não fique marcando, de encontrar um ângulo bom na hora de tirar uma foto pra atualizar o Instagram, de se olhar no espelho depois do banho, de não sentir peso na consciência depois de comer um hambúrguer delícia com um copão de refrigerante.

Que difícil que é não gostar da própria imagem, mas não o suficiente a ponto de querer fazer algo para mudar: fast-food é bom demais para trocar pela saladinha; Deus me livre de academia, corrida e caminhada, sendo que canso só de subir as escadas da faculdade; esporte? Jamais! Com que coordenação motora? Muito mais feliz em casa, deitada na minha cama, curtindo uma Netflix com uma pipoca pra acompanhar. Seria legal perder uns quilinhos, sim, não nego, mas seria mais legal ainda conseguir me aceitar. Acordar, me olhar no espelho e falar "ah, ok" com sinceridade. 

Nesse dia das crianças, em vez de sentir saudades de como a vida escolar era mais fácil, de como era legal levar brinquedos para a aula toda sexta-feira, de como era divertido acordar cedo só para assistir a desenhos animados na televisão, eu senti falta de como a inocência infantil não deixava eu me importar com o sobrepeso. Nesse dia das crianças eu só queria poder voltar a ser um pouco mais a antiga Karol e como a Olive, a Pequena Miss Sunshine.

Créditos da ilustração: LIZ RICCARDI @ Nylon
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