A caminho da escola, uma jovem chamada So Won (que literalmente significa "desejo" ou "esperança" em coreano) é atacada sexualmente por um homem estranho mais velho e bêbado. Como resultado, ela sofre várias lesões internas e tem que passar por várias cirurgias importantes, mas suas feridas emocionais são igualmente difíceis de curar. Sua família feliz está quebrada, com seus pais Dong Hoon e Mi Hee passando por sentimentos de dor e raiva. Devido ao trauma daquele dia, So Won se recusa a falar com seu pai ou até mesmo vê-lo, então o homem passa a se esconder sob uma fantasia do personagem de desenho animado favorito de sua filha e torna-se o "anjo da guarda" dela, sempre ao seu lado.
O filme é baseado no "Caso Nayoung", uma história real que ocorreu em dezembro de 2008 na Coreia do Sul a uma menina de oito anos, Nayoung, que estava a caminho da escola quando foi sequestrada por Cho Doo Soon, de 57 anos, bêbado. O homem estuprou e espancou a menina em um banheiro público. Nayoung teve ferimentos em seus órgãos internos e foi levada a um hospital, sobrevivendo, porém com danos irreversíveis em seus intestinos e genitais. Cho foi preso e eventualmente condenado a doze anos de prisão, provocando indignação e protesto entre os coreanos, inclusive do então presidente Lee Myungbak, que expressou seu ressentimento durante uma reunião de gabinete.
Os promotores haviam exigido uma sentença perpétua para Cho, que tem registro de 17 crimes anteriores e já havia passado três anos na prisão por estupro alguns anos antes. Cerca de 300.000 internautas assinaram uma petição em um site de portal da Internet que pediam pena de morte para Cho. Em meio ao crescente ressentimento da sociedade, o então presidente Lee disse ter ficado assustado e angustiado com o caso da Nayoung, bem como com a decisão do tribunal contra o agressor sexual. "Fiquei profundamente triste depois de ler relatórios sobre o caso de Nayoung. Não é fácil fazer uma pergunta sobre as decisões do tribunal, mas acho que essa pessoa (Cho) deveria estar permanentemente separada de nossa sociedade" Lee foi citado por seu porta-voz dizendo durante a reunião semanal do gabinete.
Em 2010, o Ministério da Igualdade de Gênero e da Família revelou que, entre 2005 e 2008 - o ano do caso de Nayoung - a Coréia do Sul apresentou 70% de aumento em casos de abuso sexual no período de quatro anos, enquanto os Estados Unidos viram um aumento de 2,9% e as taxas do Japão, Reino Unido e Alemanha diminuíram 29,2%, 14,8% e 9,6%, respectivamente, sendo a Coréia do Sul o único país a mostrar um aumento consistente e bastante dramático. Um dado atualizado em 2016 mostrou um aumento significativo na agressão sexual infantil entre 2010 a 2015, embora os casos de estupro tenham diminuído.
Lee Geum Soon, funcionária do Departamento de Proteção Sexual para Crianças e Adolescentes do Ministério da Igualdade de Gênero e da Família, disse à Korea Exposé que não houve pesquisa oficial sobre a causa do aumento. No entanto, é provável que os números representem um aumento das taxas de denúncia de agressões sexuais, disse.
Nayoung agora tem 17 anos e é uma senior no ensino médio, disse seu pai na entrevista a Joongang. Enquanto tanto sua saúde física quanto mental sofreram significativamente, ele disse que a garota agora sonha em se tornar uma médica para devolver à sociedade o tratamento que recebeu quando necessitou.
No longa cinematográfico, Nayoung recebe o nome de Sowon e é interpretada pela atriz mirim Lee Re, nascida em 2006, que também trabalhou no drama Super Daddy Yeol (2015) e no filme How to Steal a Dog (2014). Prodígio, Lee Re demonstra em Hope uma atuação digna de Oscar, representando com maestria os momentos de dor, sofrimento, trauma e tristeza, além da inocência infantil, com um sorriso no rosto ao ver seu personagem preferido Kokomong, uma espécie de macaco que, de acordo com a própria personagem, não possui sexo - e se possui, não importa: é apenas o Kokomong.
Por meio de seu amor pelo personagem é possível a comunicação com a garota, inicialmente por sua terapeuta, como uma forma de romper a barreira que impedia a garota de conversar com a mulher, mas posteriormente e principalmente por seu pai que, por ser homem, acaba sendo evitado pela filha traumatizada, e aplica, mesmo sem perceber, a psicologia infantil a fim de aproximar-se dela. Essa área da psicologia demonstra-se de grande importância para a recuperação da vítima e readaptação em seu meio social/familiar.
O filme aborda outros pontos de vistas além do da vítima: sua família, que é o maior suporte da criança, encontra-se desmoronada pelo ocorrido. O pai, inicialmente mais sensato e controlado, transforma sua rotina em caos pela busca por um método efetivo de reafirmar seu contato com a garota. A mãe, desestabilizada desde o princípio, busca forças nos confins de seu espírito para manter-se em pé e poder apoiar não somente à filha vítima de abuso, mas a criança que carrega em seu ventre. A exaustão e estresse excessivo de ambos os pais os leva a constantes discussões, desentendimentos e desacordos em relação a Sowon, mostrando como o caso abala não só a vítima, mas aqueles ao seu redor.
Mostra, ainda, o apoio externo, por conhecidos dos pais e da própria Sowon, comovendo e gerando a gentileza entre conhecidos e amigos de todas as idades, que demonstram seus desejos de melhoras das mais distintas maneiras, mas todos com a mesma intenção. Mesmo o lado do agressor, embora com menor ênfase, é abordado, apresentando a maldade humana e a injustiça de seu julgamento, expondo ainda que em segundo plano a importância de um bom advogado de defesa acima da verdade, proteção e justiça a vítima.
Hope não é um filme para qualquer um. É preciso ter estômago e coragem, mas nem a maior das forças consegue evitar a raiva e angústia que preenche o coração de quem se propõe a assistir ao longa. Qualquer pessoa com o mínimo de empatia consegue colocar-se no lugar dos pais ou da própria vítima, sabendo o quão comum casos como esse, infelizmente, são.
Para quem quiser arriscar, Hope está disponível na Netflix. Apesar da história lastimosa que fará seu coração sentir-se pesado por horas ou até mesmo dias, trata-se de uma excelente produção cinematográfica com atuações convincentes e uma série de diálogos/ações que tocam no mais profundo de sua alma. Impossível não se comover.
"A pessoa solitária é a mais gentil.
A mais triste sorri mais,
pois não quer que os outros sintam a mesma dor."
- Anônimo
Fonte: Koreaherald, Korea Exposé
5 Comentários
Eu adorei esse post. Nunca tinha ouvido falar do filme mas já fiquei emocionada lendo sobre. Em anos de formação no Investigação Discovery eu posso dizer que o aumento do abuso infantil foi devido a impunidade, só dois anos de cadeia pra um cara que já fez isso várias vezes? Pq não fazer uma só?
ResponderExcluirNão sei se terei coragem para assistir esse filme, se o filme o quarto de jack já me deixou abalada, eu não sei se conseguirei suportar esse filme em si
Carol Justo | pink is not rose
Infelizmente a impunidade para crimes de abuso continua muito grande, enquanto a legislação não for mais rigorosa não seremos capazes de registrar diminuições nos índices. :(
ExcluirO filme é muito tenso, tem que ter estômago, Carol. Não recomendo assistir na TPM.
Olá, eu não tive estômago para continuar assistindo ao resto do filme, depois da cena da criança TD ensanguentada..... parei ....fiquei por dias com aquela imagem na cabeça, do filme associando com o fato real. Muito triste. Eu fiquei abalada, acho que vc TB ficara.
ExcluirAbraco.
Eu assisti que filme emocionante lição de vida prova que o amor ainda pode curar algumas feridas... Mais ele poderia ter sido condenado a prisão perpétua 😐 triste e injusto
ResponderExcluirSe o estupro tivesse acontecido com a filha do juiz,a sentença teria sido outra,infelizmente na nossa sociedade manda mais quem tem dinheiro
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