The End of the F***ing World, seriado britânico de drama e comédia sombria que ganhou relevância no mercado após lançamento mundial pela Netflix na última sexta, 5 de janeiro, é baseado na história em quadrinhos homônima e de volume único escrita por Charles Forsman e publicada em 2013 pela Fantagraphics. Enquanto aguardados por uma segunda temporada (ou não), vale a pena conferir algumas das principais diferenças e semelhanças entre as obras que narram o relacionamento rebelde de James e Alyssa. Com spoilers, obviamente.
Pré-Alyssa
Em ambos, quando criança, James presencia o suicídio da própria mãe, evento que desencadeia sentimentos (ou a falta de) no personagem. Logo no primeiro episódio e nas páginas iniciais dos quadrinhos somos apresentados a alguns fatos que marcaram o personagem. Na série, percebe aos oito anos que não possui senso de humor: no comic book, a descoberta vem aos nove. Um ano mais tarde, mergulha a mão em uma fritadeira, mas na HQ o fato corresponde vem apenas aos 15, quando coloca a mão no ralo triturador da pia, perdendo alguns dedos. O assassinato do gato da vizinha e de todos os outros animais de que se lembra, enquanto mostrado na série como sendo aos 15 anos, na HQ inicia-se um pouco antes, aos treze e meio.
Com a Alyssa
Na série, tem 17 quando começa a se envolver com Alyssa, um ano a mais que na obra original, onde a ideia não era de matá-la, mas apenas fingir-se apaixonado. A garota tentava despertar sentimentos em James, que começava a pensar em estrangula-la, mas deixou a ideia de lado para tentar aceita-la em sua vida, permitindo-a entrar em seu mundo.
No livro, a ideia de roubar o carro do pai e realizar o sonho de socá-lo no rosto é do próprio James, aos 17 anos, mas desta vez o carro não explode ao bater em uma árvore, em vez disso, cai de um barranco onde fica abandonado. Ainda que no seriado a fuga e aventura do casal tenha durado pouco mais de uma semana, na narrativa literária segue por alguns meses sendo que, nos primeiros, Alyssa demostrou saudades de casa, enquanto James nunca sequer cogitou voltar para o seu lar: nunca teve um.
O assassinato
Encontram, então, a casa do professor. Bebem, dançam e se divertem como no seriado, indo até mesmo um pouco além quanto a sua sexualidade que é mais explorada nos quadrinhos, sendo menos tímidos e mais abertos sexualmente um com o outro que na trama televisiva. Os segredos do proprietário da casa são descobertos por James em ambos original e adaptação, mas na obra antecessora não são pegos de surpresa como no seriado: pela janela, percebem a chegada do morador, e Alyssa o espera na cama enquanto James se esconde para a execução de um plano secreto, no qual a garota se propõe a confiar cegamente.
Quando o homem se aproxima, sequer chega a encostar na garota para James entrar em ação: o mata com um corte no pescoço e, apenas após o ocorrido revela a verdadeira identidade do homem mal a Alyssa, que fogem com a chegada rápida de uma estranha policial a casa, esta com um símbolo satânico tatuado no próprio peito.
Fuga e abandono
A carona que pegam, prometidos a serem levados a Tulsa, não é tão simpática na obra original quanto é apresentada no live-action. O motorista revela-se um pedófilo estuprador que tenta algo com James ao adentrar sua mão na calça do rapaz, impedido por Alyssa. Enquanto continuam a viagem a pé, descobrem sozinhos, ao ler o jornal, que James é procurado pela polícia como suspeito por homicídio: nada é dito sobre Alyssa, entretanto. A ideia de mudar o visual é da garota, que raspa completamente os cabelos do namorado e o pede para também mudar sua aparência por segurança. Embora não esteja na lista dos procurados, acredita que possa ter sido vista e opta pela prevenção.
A fase de abandonamento é marcada em ambos, embora de maneira diferente. O que no seriado aconteceu quando Alyssa deixa James sozinho no restaurante, é narrado nos quadrinhos como um ato feito durante o sono do rapaz em um ponto de ônibus. Ao acordar sem a garota e consumido pela solidão, envolve-se em uma briga com alguns rapazes e aceita que não era o seu protetor, mas que ela era a dele.
Do outro lado da história, Alyssa, arrependida por seus atos, precisa encarar sua menstruação desprotegida e parte para o roubo de uma calça nova, não apenas de uma calcinha, como na série. Na HQ a sua conversa com o segurança é menos profunda e não apresenta a situação da garotinha perdida, considerando que novos eventos precisariam ser adicionados para expandir a narrativa de menos de 200 páginas a um seriado televisivo de oito episódios, ainda que curtos.
O pai
Quando se reencontram, iniciam sua jornada rumo a casa do pai biológico de Alyssa em busca de ajuda e um novo teto para se abrigarem. O endereço revela-se desatualizado, com uma mulher rabugenta que entrega a verdade a garota sem saber sua identidade, mas não perde a oportunidade de expor o embuste que era o homem que a abandonou com um filho faminto.
Depois de algum tempo de convivência com a figura pouco convencional de paternidade com personalidade estranhamente muito confortante, descobre que foram entregues a polícia por aquele que consideravam um amigo e não deixam barato. Ao contrário da série, não é Alyssa que o fere na perna com uma faca, mas o próprio James, com o mesmo objeto cortando-lhe a mão. Sem essa de oficial boazinha entrando no local antes para tentar resolver as coisas na paz e na conversa, James amarra sua amada em uma cadeira e a pede para dizer que foi sequestrada, evitando que o siga em sua nova fuga.
O final
No seriado, ficamos apavorados na expectativa por uma segunda temporada quando, em seu último episódio, exibe a fuga de James da polícia e acaba com o som de um tiro, sem mostrar se acertou ou não o garoto e, se acertou, se foi fatal ou o deixou com vida. A HQ na qual o seriado foi baseado não explicita a resposta que buscamos, mas traz mais informações: no livro, são dois tiros.
O primeiro tiro, disparado por uma policial com personalidade mais semelhante a de Teri, do seriado, o acerta próximo ao joelho. Enquanto no chão, é esfaqueado pela mesma policial no rosto e tem alguns dedos arrancados. Suas ações são interrompidas quando uma outra colega de trabalho, semelhante a Eunice, chega em cena e James aproveita a deixa para fugir.
Já machucado, não consegue ir muito longe, e um novo som de tiro é ouvido: assim como no seriado, a HQ não mostra se o rapaz foi ou não atingido pela bala. Entretanto, esta não é a cena final. De volta a sua casa, Alyssa encara a preocupação de sua mãe, assustada com o comportamento da filha. Alyssa aparece deitada em sua cama, depressiva, e poucos quadrinhos após toma a atitude de esquentar um prego em uma vela e, com o artefato, escreve "James" por toda a extensão de seu braço.
Uma homenagem póstuma ao falecido amado ou um ato de saudades por ter sido afastada de seu protetor e protegido? Para ajudar em nossas interpretações, em entrevista para o site Den of Geek, o autor diz que Alyssa deve conseguir superar o fantasma de James, seu primeiro amor com quem manteve um relacionamento intenso, quando tornar-se adulta, mas o momento de sofrimento por sua perda será marcado por choro. Embora a palavra "morte" não seja utilizada em nenhum momento, fica bem explícita a verdade - que, por não ter sido mostrada na série, pode ser alterada e mostrá-lo vivo em uma temporada posterior, caso venha a recebê-la. O belo poder das adaptações.
Por mais que queiramos ser positivos quanto a possibilidade de uma segunda temporada, os quadrinhos entregam uma história fechada que, embora interpretações diferentes, pode seguir pelo seu título e representar "o fim dessa porra de mundo" com um grande mau entendido que levou a catástrofe. Uma boa história acaba sendo como a vida: injusta, dura e finita.
Com ou sem James, ainda não temos uma notificação da Netflix ou Channel 4 sobre uma segunda temporada de The End of the F***ing World, e só podemos aguardar e sonhar com uma resposta positiva.
Por mais que queiramos ser positivos quanto a possibilidade de uma segunda temporada, os quadrinhos entregam uma história fechada que, embora interpretações diferentes, pode seguir pelo seu título e representar "o fim dessa porra de mundo" com um grande mau entendido que levou a catástrofe. Uma boa história acaba sendo como a vida: injusta, dura e finita.
Com ou sem James, ainda não temos uma notificação da Netflix ou Channel 4 sobre uma segunda temporada de The End of the F***ing World, e só podemos aguardar e sonhar com uma resposta positiva.
6 Comentários
Parabéns!!! Muito bem explicado. Talvez seja melhor fechar a história por aqui, ao invés de tentarem uma segunda temporada, e detonar com a série.
ResponderExcluirObrigado pelo esclarecimento.
ResponderExcluirGostei da série mas tenho um problema muito sério com esse tipo de fim que deixa por conta da imaginação kkk
Espero que tenha segunda temporada, pra elaborar melhor os últimos acontecimentos, coisas como por exemplo: oque acontece com Alysse...
Mesmo assim, muito obrigado!
Melhor acaba assim,claro que eu queria eles juntinhos *-*,mas assim não seria como vc falou"Uma boa história acaba sendo como a vida: injusta, dura e finita."Parabéns pra vcs matéria linda.Queria encontrar a HQ
ResponderExcluirOnde posso encontrar a hq ?
ResponderExcluirGostei , parabéns
ResponderExcluirhttp://oceanofpdf.com/category/authors/charles-forsman/
ResponderExcluirneste site tem o pdf do livro para quem quiser, porém está em inglês.