O filme é baseado no livro homônimo de Madeleine L' Engle, publicado no Brasil pela editora Harper Collins. Infelizmente ainda não tive a oportunidade de ler a obra original, portanto não possuo (palavra que esqueci) para dissertar sobre sua semelhança ou não com o conteúdo de Madeleine. Entretanto, pesquisas na internet levam a comentários que afirmam que é bem semelhante, mas cm algumas modificações na história dos personagens, como os gêmeos de Meg e Charles e uma nova abordagem a família de Calvin e até mesmo um mau proveito de sua personalidade, que tornou o personagem obsoleto no filme. Para maiores detalhes das diferenças, recomendo a leitura do texto de O Que Tem Na Sua Estante.
O principal forte do filme é a fotografia e a direção de arte. Em uma viagem interestelar por diversos planetas, conhecemos uma beleza estrangeira que jamais poderia ser vista na Terra, com cenários bem Disney e roupagens inovadoras, como se tivessem sido pensadas, e talvez seja a verdade, justamente para conquistar um Oscar na categoria. Os efeitos visuais, entretanto, são variantes, podendo ser fantásticos ou simplesmente toscos, com recortes visíveis e falhas no sombreamento. A paleta de cores é brilhante, mas consegue lidar com algumas cenas mais escura sem perder seu tom. Infelizmente, não soube driblar os pesos e a impressão que fica é de que o filme é mais focado na estética dos planetas e nos figurinos futurísticos no que no desenvolvimento da história.
Não sei se as coisas são do mesmo modo no livro, mas senti que a produção cinematográfica foi um tanto incompleta. Mais fantasia do que ficção científica, já era de se esperar que a questão das dobras fossem exploradas com menor profundidade, mas não esperava tanto descaso com o espectador. O cientista estudava o tesserato quando desapareceu, sendo esta uma forma de viajar até bilhares de anos-luz em questão de instantes, mas que acaba sendo explicada de forma superficial no filme, como se nem o próprio roteirista soubesse o que é esse tal de tesserato.
O indício de romance não é nada natural e incomoda, mas o que mais deixa a desejar é o antagonismo, elemento essencial para o desenvolvimento de qualquer narrativa de mistério e aventura, que também se perde quando é chegado a Camazotz, um planeta de escuridão dominado por uma força maligna, por sua incapacidade de prender o espectador, já que este sequer consegue entender exatamente contra o que os personagens estão lutando e como foram parar nessa situação. Muitas perguntas para poucas respostas.
A trilha sonora, entretanto, não peca. As três principais canções da obra são Flower of the Universe, de Sade Adu, que transporta a narrativa por um lado mais sentimental e emotivo que, infelizmente, não foi muito bem apresentado e acaba se tornando superficial, porém com uma bela canção ao fundo. Demi Lovato e Dj Khaled ganham destaque com a faixa I Believe, que nos faz lembrar da época em que Demi e Disney andavam de mãos dadas, mas com o tom atual da cantora, já madura, como se estivesse olhando para seus sonhos de outrora. Magic, da Sia, encerra a trilogia principal ao adentrar no universo fantástico com sua voz única em faixa original para a produção audiovisual.
Já o time de atores fica dividido. Para o elenco adulto, grandes nomes como Chris Pine, Reese Witherspoon, Mindy Kaling e a grandíssima Oprah Winfrey, principalmente, destacam-se por sua popularidade e talento, entregando ótimas performances e carismas que combinam perfeitamente com seus personagens, enquanto o time mirim revela-se fraco, de reações forçadas e relações sem química. Problema não só de casting, mas de roteiro, com diálogos e monólogos pesados demais, que ultrapassam os limites do esperado para crianças como o pequeno Deric McCabe, de apenas nove anos, que entrega uma atuação divertida de se assistir aos primeiros minutos do longa, mas que se torna cansativa e forçada ao passar dos minutos.
Exagerada também é a mensagem do filme. Disney, como sempre, tenta dar boas lições para as crianças e jovens de acordo com as necessidades socioculturais do momento de lançamento de sua obra. Para encontrar o próprio pai, Meg precisará desenvolver em si mesma o amor próprio, empoderamento e se tornar uma guerreira pela esperança, mas o roteiro abusa da dose ao comparar a personagem com grandes figuras históricas como Gandhi ou Einsten, por exemplo. Se tinha algo para me fazer ficar emocionada, perdi neste momento.
Exagerada também é a mensagem do filme. Disney, como sempre, tenta dar boas lições para as crianças e jovens de acordo com as necessidades socioculturais do momento de lançamento de sua obra. Para encontrar o próprio pai, Meg precisará desenvolver em si mesma o amor próprio, empoderamento e se tornar uma guerreira pela esperança, mas o roteiro abusa da dose ao comparar a personagem com grandes figuras históricas como Gandhi ou Einsten, por exemplo. Se tinha algo para me fazer ficar emocionada, perdi neste momento.
Mas se tem uma coisa em que o filme acertou em cheio foi na diversidade: Uma Dobra no Tempo estreou em 9 de março nos Estados Unidos e, apesar do pouco tempo em cartaz, conquistou no último fim de semana o importante título de filme dirigido por uma mulher negra de maior bilheteria nos Estados Unidos. Até então, o posto era de Herbie: Meu Fusca Turbinado, de 2005, com direção de Angela Robinson. Herbie faturou US$ 66 milhões em sua estreia nos EUA, enquanto Uma Dobra no Tempo ultrapassa a marca dos US$74 milhões.
Este é também o primeiro blockbuster a ser dirigido por uma mulher negra e o terceiro filme com orçamento superior a US$100 milhões a ser dirigido por uma mulher, sendo as outras duas diretoras Kathryn Bigelow com K-19 (2002) e Patty Jenkins com Mulher-Maravilha (2017). Uma conquista para as mulheres de todo o mundo que, a cada vez mais, marcam sua presença no mercado hollywoodiano.
A Dobra do Tempo é, em geral, um filme legal. Não chega nem perto de ser o melhor - ou pelo menos um dos melhores - da Disney, mas também não é lá um desperdício de tempo. Você se sente perdido em certo ponto da história e é difícil recuperar a onda, mas possui algumas cartas na manga, como seu visual estupendo, para manter o espectador acordado, mas não surpreende em momento algum com um enredo nada inovador e desfecho previsível, morno. Poderia ter sido melhor, mas não foi perda total de dinheiro ir conferi-lo no cinema. Quem sabe melhore na continuação, hein, dona Disney? Se é que ainda teremos uma.
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