Explicando é a mais nova série documental original Netflix. Em formato de antologia, cada episódio busca, como o próprio nome já sugere, explicar assuntos em ascensão. O mais recente, revelado no episódio dessa semana, apresenta o fenômeno do k-pop, a música pop da Coreia do Sul, em análise profunda que parte de 1992, com o surgimento do primeiro grupo, até os mais recentes sucessos na indústria musical do país.
Com depoimentos de artistas, produtores, especialistas e fãs, o documentário adquire peso e legitimidade. Na fala dos próprios entrevistados, vemos a sinceridade de cada um em sua relação com a música coreana e o modo como, a partir de sua percepção, ela influencia ou é influenciada como produto de uma cultura abrangente e sempre em expansão, a cultura POP.
Ao contrário da maioria dos documentários e reportagens produzidos sobre o assunto, este não é aberto com o "boom" de Gangnam Style (2012) como "marco inicial", mas sim o seu verdadeiro, em 1992, com a formação de Seo Taiji, o primeiro grupo idol da Coreia do Sul, aprofundando-se nos aspectos que levaram o grupo a dar o primeiro passo nessa jornada que segue em adaptação até hoje, comparando o seu estilo ousado, com fortes influências do hip-hop americano, com as músicas patriotas que dominavam as rádios nos anos anteriores.
Caminha no tempo, passando por H.O.T e sua influência para a popularização do K-POP no exterior, enaltecendo o uso de acrônimos como nomes de grupos, o que facilita a pronuncia e familiarização para não-falantes da língua coreana. Repete-se, hoje, no nome BTS, por exemplo, que entra do documentário com grande força como o grupo que conseguiu levar o K-POP ao mercado internacional com força nunca antes vista.
Brinca com a linha temporal do K-POP ao fazer incríveis relações com as músicas de BTS e de Seo Taiji, ambos grupos com letras marcadas por mensagens revolucionárias e críticas a sociedade coreana, o que cria laços fortes entre nomes que marcam duas gerações distintas, mas ainda conectadas entre si.
Isso sem contar, ainda, as ligações que o documentário aborda entre a música coreana e produções de outros países, com o estilo adotado pelo Abba, por exemplo, na harmonização de suas melodias, como visto em Red Flavor, do Red Velvet, e as misturas de gêneros musicais muito utilizadas em produções coreanas, com exemplo em I Got a Boy, do Girls' Generation, utilizada em uma interessante análise métrica.
Mantém-se pertinente ao assunto do começo ao fim, com 20 minutos que exploram bem a origem e o desenvolvimento do estilo, sem deixar de lado os bastidores do cenário coreano. Tablo, do Epik High, compara a excelência da formação dos grupos idols com a dos Vingadores. "Imagine se Os Vingadores tivesse nove Tony Starks. Não daria certo. Precisa ter o Homem-Formiga, o Hulk, várias personalidades diferentes", afirma.
É mostrado o lado bom, com a fama, as amizades, as músicas, as críticas, a popularidade e a expansão de mercado, mas não se silencia quanto aos podres da indústria, demonstrando a necessidade de manter uma "imagem limpa", sempre cobrada dos idols, e o quanto um rumor negativo pode afetar a carreira e a vida de um artista de K-POP.
Há uma explicação em relação ao modo como algumas coisas mudaram nos últimos anos para uma indústria que, um dia, teve seus artistas vistos como fantoches manipulados por seus administradores. Essa concepção ainda é muito forte entre os fãs do estilo musical, embora os especialistas afirmem que, hoje em dia, as coisas não mais funcionam deste modo, tornando-se portanto um conceito ultrapassado que, hoje, é falso.
Em contrapartida, deixa passar os considerados flops para focar apenas em uma imagem de sucesso e relevância fundamentada na populares dos artistas do ramo. Talvez por questão de pouco tempo disponibilizado para a transmissão do mesmo ou por simplesmente optar por enfatizar o lado bem-sucedido da moeda.
Em geral, o episódio foi muito superior a qualquer outro documentário já produzido sobre o assunto por empresas televisivas ou de ramos semelhantes, principalmente por sua capacidade de analisar os dados com base cultural e histórica, tendo como plano de fundo, inclusive, a política e economia do país.
Um novo episódio de Explicando é adicionado a Netflix todas as quartas-feiras. Assista, neste link, ao episódio sobre K-POP.
1 Comentários
Legal essa análise, deu vontade de assistir! kkkk
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