Pequenos Incêndios por toda parte, segundo romance de Celeste Ng, foi publicado em setembro de 2017 e chegou recentemente ao Brasil com edição e tradução da Editora Intrínseca. Em seu enredo, aborda como o encontro de duas famílias completamente diferentes promete mudar a vida na até então tranquila e ordeira cidade de Shaker Heights, em Ohio.
Elena Richardson vive a plenitude de uma existência tradicional: um bom marido, quatro filhos, um emprego conformista e a conta bancária cheia por uma herança familiar. A primeira vista, nada lhe falta, e toda a sua vida combina muito bem com Shaker Heights, onde tudo é muito bem planejado, desde a localização das escolas até a padronização das cores para os muros das casas: lixo somente no quintal dos fundos, nada de sujar a visão perfeitamente limpa da vizinhança.
Quem não combina com nada disso é Mia Warren, uma mãe solteira que se mudou recentemente para um pequeno apartamento alugado pela família Richardson por uma pechincha - afinal, eles não precisam do dinheiro, essa é somente mais uma forma de ajudar pessoas em situações não tão favorecedoras. Mas ela não vem sozinha, carregando consigo sua filha adolescente, sua arte enigmática e muitos mistérios sobre o seu passado.
O primeiro capítulo do livro nos leva direto ao acontecimento mais recente: um misterioso incêndio que destruiu a casa da família Richardson. A principal suspeita é a própria filha mais nova, Izzy, sempre tida como uma garota problemática. No próximo capítulo, volta-se no tempo para apresentar toda a história desde seu início, com a chegada de Mia e sua filha Pearl a Shaker Heights e todo o desenrolar da união conflituosa entre as duas famílias: Pearl, que seu deu bem com os quatro irmãos ricos; Mia, que é querida por uns, odiada por outros; e toda a suspeita de Elena, incomodada com o início de desordem que se instaura na comunidade.
A história toda é passada durante o fim da década de 90, embora algumas poucas olhadas para os anos anteriores, a fim de compreender melhor o passado de alguns dos personagens centrais da narrativa. Com conflitos familiares e muitas mulheres atuando como protagonistas do texto, os principais temas a serem desenvolvidos no livro incluem configuração tradicional e moderna de família, gerações, gravidez, aborto, abandono maternal e adoção. A visão masculina se faz presente, mas com muito menos força: são as mulheres que traçam essa história.
Não tenha em mente, entretanto, a palavra sororidade: as "damas" deste livro se dividem e lutam entre si por interesses próprios, e as diferentes classes sociais entram em conflito, pela primeira vez, na cidade de Shaker Heights, quando os ricos usam todas as ferramentas ao alcance de seus bolsos cheios para conquistarem o que quiserem, enquanto acompanhamos, simultaneamente, a mesma narrativa sob o olhar desesperador dos pobres sem muitas escolhas.
Mesmo os leitores podem ficar divididos em meio a tanto caos, e isso é um dos pontos mais interessantes do livro: ver o caos sendo instaurado em um lugar que, até então, só conhecia palavras de ordem e harmonia. As pessoas não sabem lidar com isso, e diferentes sub-conflitos, sejam familiares, amigáveis ou mesmo pessoais, vão tomando forma e dando novos tons a narrativa que em nenhum momento torna-se cansativa.
A metáfora do fogo e do incêndio, por mais que já citadas no título e no texto de abertura, demoram a ganhar forma, conforme um ano inteiro se passa antes do livro conseguir retomar aos eventos recentes, tamanha a desordem a ser apresentada e analisada antes de realmente comentarmos sobre o fogaréu. O culpado é quem menos importa, mas suas motivações, o seu pessoal, os seus "pequenos incêndios internos", isso é o belo e o essencial da narrativa de Celeste Ng.
A história toda é passada durante o fim da década de 90, embora algumas poucas olhadas para os anos anteriores, a fim de compreender melhor o passado de alguns dos personagens centrais da narrativa. Com conflitos familiares e muitas mulheres atuando como protagonistas do texto, os principais temas a serem desenvolvidos no livro incluem configuração tradicional e moderna de família, gerações, gravidez, aborto, abandono maternal e adoção. A visão masculina se faz presente, mas com muito menos força: são as mulheres que traçam essa história.
Não tenha em mente, entretanto, a palavra sororidade: as "damas" deste livro se dividem e lutam entre si por interesses próprios, e as diferentes classes sociais entram em conflito, pela primeira vez, na cidade de Shaker Heights, quando os ricos usam todas as ferramentas ao alcance de seus bolsos cheios para conquistarem o que quiserem, enquanto acompanhamos, simultaneamente, a mesma narrativa sob o olhar desesperador dos pobres sem muitas escolhas.
Mesmo os leitores podem ficar divididos em meio a tanto caos, e isso é um dos pontos mais interessantes do livro: ver o caos sendo instaurado em um lugar que, até então, só conhecia palavras de ordem e harmonia. As pessoas não sabem lidar com isso, e diferentes sub-conflitos, sejam familiares, amigáveis ou mesmo pessoais, vão tomando forma e dando novos tons a narrativa que em nenhum momento torna-se cansativa.
A metáfora do fogo e do incêndio, por mais que já citadas no título e no texto de abertura, demoram a ganhar forma, conforme um ano inteiro se passa antes do livro conseguir retomar aos eventos recentes, tamanha a desordem a ser apresentada e analisada antes de realmente comentarmos sobre o fogaréu. O culpado é quem menos importa, mas suas motivações, o seu pessoal, os seus "pequenos incêndios internos", isso é o belo e o essencial da narrativa de Celeste Ng.
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