Sempre que fico muito empolgada (ou hypada, para usar o termo da moda) com o lançamento de algum filme ou série, fico igualmente preocupada com o tamanho da decepção caso as expectativas não sejam atingidas. Sabrina, entretanto, superou todas elas com muita classe, estilo e aquela dose caprichada de bizarrice, no melhor sentido da palavra.
Se você está esperando algo semelhante a 'Sabrina, Aprendiz de Feiticeira', dos anos 90, pode esquecer: essa nova versão da Netflix é, na verdade, baseada nos quadrinhos The Chilling Adventures of Sabrina, de Roberto Aguirre-Sacasa, também criador da série (e de Riverdale, mas falaremos disso mais tarde), que é bem mais dark.
Passada em Salem, cidade real localizada nos Estados Unidos e muito conhecida, até mesmo internacionalmente, por ter sido um grande ponto de perseguição às bruxas no século XVII, acompanha a vida de Sabrina, uma meio-bruxa, meio-humana, que está prestes a completar 16 anos e, em seu aniversário, precisará escolher apenas um dos mundos para viver.
Dessa forma, vemos tanto o lado humano de Sabrina, com seu namorado e amigos mortais, levando a vida de uma colegial normal, como sua face bruxa, criada por tias desde o misterioso acidente que tirou a vida de seu pai warlock e sua mãe humana, sempre usando seus poderes (ou ao menos tentando) para ajudar aqueles que ama, independente do preço a ser pago por quebrar as regras do mundo sombrio.
E quando digo sombrio, é sombrio mesmo: a série traz uma grande ênfase à religião satânica, guiada pela Igreja da Noite, incluindo seus rituais sangrentos, exorcismos, possessões e até mesmo a sua cultura linguística, com expressões idiomáticas como "Praise Satan", traduzida para o português pela Netflix como "Louvado seja Satã", em uma adaptação da popular expressão cristã "Louvado seja Deus".
Mas nada disso está ambientado em um período tão moderno assim: os quadrinhos são passados nos anos 60 e, embora a série não cite uma data exata dos acontecimentos, o estilo retrô que é abordado tanto as vestimentas e mobílias como também nas tecnologias nos passa uma imagem de um passado separado por meio século.
Há ainda algumas referências ao colégio de Riverdale, que dá nome a outra popular série de Aguirre-Sacasa. De certo modo, há um tom em Sabrina que lembra a produção anterior, tornando a referência mais palpável do que uma simples geografia relacional entre os programas - mas não espere ver Cole Sprouse e companhia passeando por Salem: foco no calendário, os tempos são outros.
Não espere, também, ver o gato Salem abrindo sua boca para soltar comentários ásperos e sarcásticos em direção a sua "dona": para o tom sombrio, mais maduro e (acredite) realista desta nova série, a versão falante do animal foi deixada de lado, mas sua presença ainda é um objeto interessante dentro do desenvolvimento da personagem, provando que ações valem mais que palavras.
Dentre os personagens, além da protagonista Sabrina, a quem nos apegamos por sua dualidade entre o mundo da luz e o das trevas, ganham destaque suas tias, que também apresentam uma certa dualidade em suas personagens: Zelda, uma mulher de postura, mas com ações frias e muito bem medidas, e Hilda, que se contrasta em ambos comportamento e aparência por revelar-se mais meiga, humanizada. Cada qual com sua importância para o desenvolvimento de Brina.
Ambrose, que mora com eles (longa história, assista!), traz um equilíbrio entre a razão e a emoção, mas com uma dose de rebeldia que o coloca em um patamar de muita relevância para o crescimento de Sabrina. Apesar de coadjuvante, ganha uma narrativa própria dentro da série, com um romance - lindo! - a ser aprofundado, assim como sua relação com a Igreja. O Sumo Sacerdote e seus seguidores representam todo o mal e tentam, a todo custo, batizar Sabrina, mas um grupo de mortais interfere nesta missão:
Em seu ciclo humano, o namorado, Harvey, pode representar a dualidade entre o amor (mundo da luz) e o ódio (mundo das trevas), o que torna a escolha ainda mais difícil para Sabrina. Suas amigas ficam responsáveis pela representatividade feminina e presença do feminismo, movimento que também dialoga com Salem e a queima das bruxas, já que mulheres bem resolvidas tem o histórico de não agradarem o patriarcado.
A literatura é de grande importância dentro deste grupo de mentes pensantes, e a série dá um empurrãozinho a esta referência quando coloca o diretor da escola com o sobrenome de Hawthorne, o mesmo do autor americano que escreveu o incrível romance A Rosa Escarlate, trazendo, em pleno século XIX, o orgulho e protesto feminino contra os padrões comportamentais puritanos da época. Olha que sacada!
Não é a indicação para se assistir depois do almoço de domingo com a família religiosa, mas com certeza é a melhor recomendação dentro do mercado teen atual para quem curte algomuito um pouco mais sinistro pra maratonar e te deixar dividido entre os lados da Força. Já pode tirar do armário aquele vestido velho com gola de renda e se preparar para assistir a sua mais nova série preferida, porque valeu a pena qualquer ansiedade pelo lançamento desse programa. Valeuzão, Netflix! Agora manda a segunda temporada porque já quero.
E quando digo sombrio, é sombrio mesmo: a série traz uma grande ênfase à religião satânica, guiada pela Igreja da Noite, incluindo seus rituais sangrentos, exorcismos, possessões e até mesmo a sua cultura linguística, com expressões idiomáticas como "Praise Satan", traduzida para o português pela Netflix como "Louvado seja Satã", em uma adaptação da popular expressão cristã "Louvado seja Deus".
Mas nada disso está ambientado em um período tão moderno assim: os quadrinhos são passados nos anos 60 e, embora a série não cite uma data exata dos acontecimentos, o estilo retrô que é abordado tanto as vestimentas e mobílias como também nas tecnologias nos passa uma imagem de um passado separado por meio século.
Há ainda algumas referências ao colégio de Riverdale, que dá nome a outra popular série de Aguirre-Sacasa. De certo modo, há um tom em Sabrina que lembra a produção anterior, tornando a referência mais palpável do que uma simples geografia relacional entre os programas - mas não espere ver Cole Sprouse e companhia passeando por Salem: foco no calendário, os tempos são outros.
Não espere, também, ver o gato Salem abrindo sua boca para soltar comentários ásperos e sarcásticos em direção a sua "dona": para o tom sombrio, mais maduro e (acredite) realista desta nova série, a versão falante do animal foi deixada de lado, mas sua presença ainda é um objeto interessante dentro do desenvolvimento da personagem, provando que ações valem mais que palavras.
Dentre os personagens, além da protagonista Sabrina, a quem nos apegamos por sua dualidade entre o mundo da luz e o das trevas, ganham destaque suas tias, que também apresentam uma certa dualidade em suas personagens: Zelda, uma mulher de postura, mas com ações frias e muito bem medidas, e Hilda, que se contrasta em ambos comportamento e aparência por revelar-se mais meiga, humanizada. Cada qual com sua importância para o desenvolvimento de Brina.
Ambrose, que mora com eles (longa história, assista!), traz um equilíbrio entre a razão e a emoção, mas com uma dose de rebeldia que o coloca em um patamar de muita relevância para o crescimento de Sabrina. Apesar de coadjuvante, ganha uma narrativa própria dentro da série, com um romance - lindo! - a ser aprofundado, assim como sua relação com a Igreja. O Sumo Sacerdote e seus seguidores representam todo o mal e tentam, a todo custo, batizar Sabrina, mas um grupo de mortais interfere nesta missão:
Em seu ciclo humano, o namorado, Harvey, pode representar a dualidade entre o amor (mundo da luz) e o ódio (mundo das trevas), o que torna a escolha ainda mais difícil para Sabrina. Suas amigas ficam responsáveis pela representatividade feminina e presença do feminismo, movimento que também dialoga com Salem e a queima das bruxas, já que mulheres bem resolvidas tem o histórico de não agradarem o patriarcado.
A literatura é de grande importância dentro deste grupo de mentes pensantes, e a série dá um empurrãozinho a esta referência quando coloca o diretor da escola com o sobrenome de Hawthorne, o mesmo do autor americano que escreveu o incrível romance A Rosa Escarlate, trazendo, em pleno século XIX, o orgulho e protesto feminino contra os padrões comportamentais puritanos da época. Olha que sacada!
Não é a indicação para se assistir depois do almoço de domingo com a família religiosa, mas com certeza é a melhor recomendação dentro do mercado teen atual para quem curte algo
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