O conto da Cinderela é muito comum: todos já se emocionaram com a história da jovem moça que, maltratada pela madrasta e suas meias-irmãs, conseguiu dar a volta por cima - o que ninguém estava preparado para era conhecer alguém que passou por isso na vida real. Adeline Yen Mah conta em sua autobiografia toda a crueldade da qual foi vítima durante a infância, em um livro que vai te deixar com um sentimento misto de horror e positivismo.
A jovem Adeline perdeu a mãe apenas duas semanas após seu nascimento, em 1937. Seus quatro irmãos a culpam pela morte da mãe e o pai, embora milionário, a trata com indiferença. Tudo piora com a chegada de uma madrasta autoritária e de seus dois filhos que vivem do bom e do melhor enquanto Adeline e seus irmãos vivem na pobreza não só financeira, mas amorosa.
O rendimento exemplar de Adeline na escola é uma afronta para a madrasta que, indignada com a petulância da menina, a coloca para padecer em colégios internos onde os livros serão seus únicos amigos e o caminho para um final feliz. Adulta, escreve Cinderela Chinesa para relatar sua história de vida e superação, publicado no Brasil pela Editora Seguinte.
"Hoje em dia, o mundo está diferente. Embora muitos pais chineses ainda prefiram ter filhos homens, as filhas meninas não são mais tão desprezadas. Mas as coisas em si não mudaram. Ainda é importante ser sincero e leal; fazer o melhor possível; explorar ao máximo seus talentos; satisfazer-se com as coisas simples da vida; e acreditar profundamente que você acabará triunfando se tentar de fato provar seu valor."
Em meio a narrativa de sofrimento da personagem, que volta a suas origens com um olhar maduro e crítico, temos uma visão das tradições chinesas que ainda se mantinham em meados do século passado, regadas a muito machismo, como a preferência por filhos homens, mas algumas já começando a "amolecer", como narra a avó de Adeline, cujos pés doem de deformidade por tê-los mantidos enfaixados para não que crescessem: "Você fique muito agradecida de esse costume horrível ter sido abandonado trinta anos atrás.".
Ainda no contexto histórico, a China estava em constante guerra: Havia perdido a do Ópio, resultando na ocupação inglesa e francesa, com a Segunda Guerra Mundial em ascensão, a ocupação dos japoneses e, então, a guerra civil, mas Adeline vivia uma guerra maior dentro de sua casa e de seu próprio corpo, sentindo-se indesejada, excluída e odiada. Sua madrasta, a própria figura do autoritarismo, é amedrontadora, mas Adeline representa a resistência, preferindo pagar o preço que for para manter sua fidelidade àqueles que ama.
O avô, quem tanto defendeu em sua vida, torna-se a figura paterna que Adeline nunca teve, e a garota foi a única a chorar em seu velório: se ela estava sozinha, seu avô também estava. Ela não era a única vítima dessa prisão familiar. Sua tia Baba, a única referência de amor que teve por muitos anos, como se fosse sua fada madrinha, foi o último fio de esperança em meio ao caos, e mesmo após serem afastadas, seus pensamentos jamais se afastaram dela. Repito as três palavras-chaves que definem Adeline e sua história: Fidelidade, amor e resistência.
Hoje, ela sabe de seu próprio valor e tenta passar a mensagem adiante, e que outra ferramenta ela poderia usar para isso se não em um livro, quando foi a leitura e a escrita que a salvaram, ainda jovem, quando ganhou um concurso internacional aos 14 anos de idade? Se a esposa de seu pai era a madrasta má e sua tia a fada madrinha, a literatura é o seu príncipe encantado, que veio a seu resgate e a levou a plenitude.
Sua história não acabou aqui e, por muitos anos, viveu ainda os ecos de sua infelicidade, como narra no posfácio, mas na medida do possível teve o seu final feliz, e deseja o mesmo a todos que se identifiquem com sua triste, porém vitoriosa história: "Para aqueles que foram abandonados e indesejados quando crianças, tenho uma mensagem especial. Apesar de tudo de ruim em que tentaram fazer vocês acreditarem, por favor, tenham a certeza de que cada um de vocês tem dentro de si algo único e precioso".
O rendimento exemplar de Adeline na escola é uma afronta para a madrasta que, indignada com a petulância da menina, a coloca para padecer em colégios internos onde os livros serão seus únicos amigos e o caminho para um final feliz. Adulta, escreve Cinderela Chinesa para relatar sua história de vida e superação, publicado no Brasil pela Editora Seguinte.
"Hoje em dia, o mundo está diferente. Embora muitos pais chineses ainda prefiram ter filhos homens, as filhas meninas não são mais tão desprezadas. Mas as coisas em si não mudaram. Ainda é importante ser sincero e leal; fazer o melhor possível; explorar ao máximo seus talentos; satisfazer-se com as coisas simples da vida; e acreditar profundamente que você acabará triunfando se tentar de fato provar seu valor."
Ainda no contexto histórico, a China estava em constante guerra: Havia perdido a do Ópio, resultando na ocupação inglesa e francesa, com a Segunda Guerra Mundial em ascensão, a ocupação dos japoneses e, então, a guerra civil, mas Adeline vivia uma guerra maior dentro de sua casa e de seu próprio corpo, sentindo-se indesejada, excluída e odiada. Sua madrasta, a própria figura do autoritarismo, é amedrontadora, mas Adeline representa a resistência, preferindo pagar o preço que for para manter sua fidelidade àqueles que ama.
O avô, quem tanto defendeu em sua vida, torna-se a figura paterna que Adeline nunca teve, e a garota foi a única a chorar em seu velório: se ela estava sozinha, seu avô também estava. Ela não era a única vítima dessa prisão familiar. Sua tia Baba, a única referência de amor que teve por muitos anos, como se fosse sua fada madrinha, foi o último fio de esperança em meio ao caos, e mesmo após serem afastadas, seus pensamentos jamais se afastaram dela. Repito as três palavras-chaves que definem Adeline e sua história: Fidelidade, amor e resistência.
Hoje, ela sabe de seu próprio valor e tenta passar a mensagem adiante, e que outra ferramenta ela poderia usar para isso se não em um livro, quando foi a leitura e a escrita que a salvaram, ainda jovem, quando ganhou um concurso internacional aos 14 anos de idade? Se a esposa de seu pai era a madrasta má e sua tia a fada madrinha, a literatura é o seu príncipe encantado, que veio a seu resgate e a levou a plenitude.
Sua história não acabou aqui e, por muitos anos, viveu ainda os ecos de sua infelicidade, como narra no posfácio, mas na medida do possível teve o seu final feliz, e deseja o mesmo a todos que se identifiquem com sua triste, porém vitoriosa história: "Para aqueles que foram abandonados e indesejados quando crianças, tenho uma mensagem especial. Apesar de tudo de ruim em que tentaram fazer vocês acreditarem, por favor, tenham a certeza de que cada um de vocês tem dentro de si algo único e precioso".
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