Com roteiro Mikki Daughtry e Tobias Iaconis e estrelado por Haley Lu Richardson (The Edge of Seventeen) e Cole Sprouse (Riverdale), A Cinco Passos de Você é o mais novo filme de romance teen a chegar aos cinemas dos Estados Unidos, com lançamento realizado na última sexta-feira, 15, e pré-estreia no Brasil no mesmo fim de semana como um aquecimento para o seu lançamento oficial esperado para a próxima quinta-feira, 21 de março.
Na trama, narra-se a história de amor entre Stella Grant, que passa muito tempo no hospital para tratar sua fibrose cística, doença que atinge seus pulmões, atualmente operando com somente 35% de capacidade, e Will Newman, que sofre da mesma doença, mas com o agravante de portar também a B. Cepacia, uma bactéria indestrutível que o tira imediadamente da lista de transplantes e o impede de sequer pensar em tocar em Stella - mas isso não os impedem de se apaixonarem. Vivendo sempre a seis passos de distância um do outro, como lidarão com esse relacionamento?
Bem ao estilo de romance adolescente, o filme começa com uma pegada cômica, regada a muito sarcasmo e brincadeiras de duplos significados, mas se torna gradativamente mais pesado ao longo da narrativa, conforme os personagens principais desenvolvem seu relacionamento e lidam com seus problemas de saúde, cada vez mais graves.
Neste sentido, o modo como enxergam a vida e a morte se adapta as visões um do outro, influenciados pelas ideologias opostas que inicialmente carregavam: Stella, sempre muito preocupada com seu tratamento, lidando com ele de forma meticulosa, enquanto Will já havia aceitado sua condição e apenas queria viver fora das paredes de um hospital para aproveitar de verdade o que lhe resta de sua vida, e não apenas existir. Essas reflexões são passadas para o público, impossível de não se emocionar enquanto questionamos-nos sobre o que faríamos em seus lugares ou, até mesmo, sobre o modo como levamos nossas próprias vidas, do jeito como elas realmente são.
Pode-se dizer que o filme tem um formato bastante semelhante ao popular A Culpa é das Estrelas, considerado como o precursor desta onda de narrativas adolescentes sobre pacientes terminais que tem se manifestado nos cinemas e livrarias durante a última década - e que não tem previsão de acabar tão em breve.
O que o diferencia é o formato de origem: ao contrário da obra de John Green, originária de um livro, este filme nasceu como um roteiro original que, antes mesmo de ser lançado nos cinemas, foi adaptado em formato literário por Rachael Lippincott e chegou antecipadamente às livrarias em novembro do ano passado nos Estados Unidos e em fevereiro deste ano no Brasil, pela editora Globo Alt. Leia a resenha do livro pelo Elfo Livre clicando aqui.
Para falar dos personagens isoladamente, Stella pode ser facilmente resumida com a palavra foda: além de sua incrível maturidade, muito avançada para uma garota de 16 anos, representada no modo como lida com sua doença com muito positivismo e bom humor, a jovem Grant é capaz ainda de não só controlar os tratamentos de seus amigos, fazendo-os andar na linha, como de programar sozinha um aplicativo de notificações para medicamentos, mantendo tudo sob controle.
Ela, ainda, é uma youtuber bastante influente que consegue atingir um público bem alto para um nicho tão específico, ao abordar em seus vídeos as formas como lida com sua doença e como é o dia a dia de uma portadora de fibrose cística, conscientizando outras pessoas ao redor do mundo sobre a sua rara condição e compartilhando sua esperança e alegria de viver com outros pacientes.
Will, por sua vez, pode não ser o cara mais preocupado do mundo com a sua condição de saúde ou em manter seus tratamentos em dia, mas não fica muito atrás de Stella no quesito "talento para tocar o mundo" quando, nos raros momentos em vez de usar o sarcasmo e a grosseria para se manifestar, opta por emprestar sua voz para a arte por meio de desenhos que falam mais que mil palavras.
Como o próprio personagem explica, caricaturas são subversivas e podem dizer muito mais do que aparentam, com opiniões polêmicas disfarçadas ainda por um bom humor, e por isso costumam ser muito utilizadas, principalmente, para tratar de assuntos políticos com mais "leveza", mas que também podem ser muito úteis para quem tem dificuldades em escolher as palavras certas para se expressar.
Passado quase que totalmente dentro de um hospital, o filme não peca ao retratar a realidade do mesmo, focando não só nos pacientes mas em como eles se relacionam com as enfermeiras e médicos locais, seja por bem, obedecendo e seguindo a risca suas restrições e ordens, ou por mal, dando-lhes ainda mais preocupações.
Barb, personagem de Kimberly Herbert Gregory, é o grande destaque neste sentido: extremamente humanizada, a personagem tem um papel muito importante na narrativa por ser uma figura quase maternal para seus pacientes, principalmente para Stella. Realista e complexa em sua narrativa pessoal, se deixa levar pelas emoções e por suas experiências, preocupando-se de verdade com aqueles com quem cria laços, capaz de mover o mundo por eles, mesmo que lhe doa - enquanto isso, é ainda uma personagem bastante cômica por sua personalidade espontânea que consegue retirar risadas naturais do público.
É dada, portanto, a importância dos personagens secundários para a narrativa dos personagens: enquanto Barb representa, ao mesmo tempo, a união e distância entre Will e Stella, outros personagens rodeiam este casal, como seus amigos, com ênfase para o divertidíssimo Poe, também portador de fibrose cística, que é de papel extremamente relevante para a junção deste casal improvável enquanto lida com seus próprios dilemas amorosos.
A família de ambos os personagens também é importante para a trama, cada qual de seu modo: os pais de Stella não são tão presentes, com problemas que se desenrolam na leitura do filme, mas são muito influentes para a personagem e o modo como ela age, enquanto a mãe de Will parece representar-lhe mais problemas do que soluções. O amadurecimento das relações familiares também pode ser observado na narrativa, dando-lhe ainda mais profundidade.
A fotografia do filme é, em geral, bastante comum: não dá para inovar tanto com um espaço tão limitado e não-estético como um hospital, mas ainda consegue ter alguns momentos de glória com, por exemplo, cenas gravadas no terraço ou em que uma iluminação bem trabalhada faz o trabalho por si só. Os planos fechados, também conhecidos como "close", ajudam a dar o ar dramático da trama por focar nas expressões do elenco em seus mais diversos momentos, mas principalmente nos tristes, cooperando como estímulo para as reações de choro do público - e funciona. Os planos mais abertos, por sua vez, nos ajudam a perceber a distância entre os personagens, que sufoca os espectadores mais acostumados com tramas repletas de contato físico.
A trilha sonora é um show a parte, com uma boa seleção que envolve My Babe Just Cares for Me, de Kate Davis, para momentos íntimos de Stella, refletindo muito sobre a personagem e sua relação com Will, enquanto a original Don't Give Up On Me, de Andy Grammer, faz o seu papel como principal canção do filme e toca o coração dos espectadores com sua sensibilidade crescente, assim como o longa.
Em suma, o filme cumpre com o seu papel de entreter e emocionar um público que goste de histórias refrescantes, mas ainda dramáticas, sobre os primeiros desenrolares amorosos e as dificuldades que podem cruzar seu caminho. Com o diferencial das doenças, consegue ainda levantar uma conscientização a respeito da fibrose cística, doença rara, incurável e com baixíssima visibilidade.
A Cinco Passos de Você promete muitas lágrimas e reflexões a respeito de como definimos o conceito de vida, do que viver representa para cada um, e se estamos de fato seguindo nossas ideologias ou apenas existindo, deixando a verdadeira vida passar por nós. Aos que estão em um relacionamento amoroso, o fator de "não tocar" ajuda, ainda, a percebemos a importância das pequenas coisas, como um simples aperto de mão ou um beijo na testa. Leve os lenços para o cinema, mas não perca esse filme.
A Cinco Passos de Você promete muitas lágrimas e reflexões a respeito de como definimos o conceito de vida, do que viver representa para cada um, e se estamos de fato seguindo nossas ideologias ou apenas existindo, deixando a verdadeira vida passar por nós. Aos que estão em um relacionamento amoroso, o fator de "não tocar" ajuda, ainda, a percebemos a importância das pequenas coisas, como um simples aperto de mão ou um beijo na testa. Leve os lenços para o cinema, mas não perca esse filme.
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