A Cinco Passos de Você estreia hoje (21) no Brasil: com roteiro de Mikki Daughtry e Tobias Iaconis, foi adaptado para o formato literário antes mesmo do lançamento do longa nos cinemas, chegando às livrarias estadunidenses em novembro de 2018 e em fevereiro deste ano em território brasileiro, com publicação da editora Globo Alt. É inegável que as obras, mesmo de diferentes formatos, estão devidamente relacionadas, mas no processo de adaptação sofrem algumas mudanças e o Elfo Livre lança um paralelo entre o filme e o livro.
Para começar, o texto original, ou seja, o roteiro do filme, revela-se com um quê mais dramático que sua adaptação literária: em relação ao filme, o livro é um pouco mais divertido graças a piadinhas, palavrões e comentários de duplo sentido que foram adicionados à obra por Rachael Lippincott, tornando-a mais cômica e, de certo modo, "besteirenta" - a um nível juvenil, claro.
O filme, por sua vez, tem alguns momentos divertidos, sim, mas menos que o livro. Por exemplo, as provocações entre os protagonistas são deixadas de lado na versão audiovisual, enquanto a literária traz conversas mais sexuais quando fala-se sobre nudez em desenhos ou o machismo no universo da programação, sempre com um humor sarcástico ou depreciativo.
Em contrapartida, um dos fios narrativos mais tensos do livro não marcou presença nos cinemas: a história de Poe é muito mais intensa no livro, sendo ele um personagem complexo, tridimensional, com uma bagagem cultural e sentimental riquíssima, carregando questões sociais de importância para um cinema de representatividade jovem, como sua sexualidade, gay, também retratada no filme, e de sua etnia, descrito no livro como um filho de imigrantes deportados que foi deixado no país sozinho há dois anos para continuar seu tratamento.
No filme, Poe é interpretado por Moises Arias, ator colombiano que se tornou conhecido pelo papel de Rico, em Hannah Montana, mas o país não chega a ser citado no filme, nem a situação de seus pais. Tudo referente a geografia da família deste personagem é superficialmente apresentada nos cinemas enquanto o livro mastiga essas informações, descrevendo o tom de sua pele, fazendo-o contar a verdadeira história a seus amigos e, até mesmo, conversando em espanhol com sua mãe no telefone - cena que rende um dos momentos mais fofos do livro, aliás.
O filme, por sua vez, tem alguns momentos divertidos, sim, mas menos que o livro. Por exemplo, as provocações entre os protagonistas são deixadas de lado na versão audiovisual, enquanto a literária traz conversas mais sexuais quando fala-se sobre nudez em desenhos ou o machismo no universo da programação, sempre com um humor sarcástico ou depreciativo.
Em contrapartida, um dos fios narrativos mais tensos do livro não marcou presença nos cinemas: a história de Poe é muito mais intensa no livro, sendo ele um personagem complexo, tridimensional, com uma bagagem cultural e sentimental riquíssima, carregando questões sociais de importância para um cinema de representatividade jovem, como sua sexualidade, gay, também retratada no filme, e de sua etnia, descrito no livro como um filho de imigrantes deportados que foi deixado no país sozinho há dois anos para continuar seu tratamento.
No filme, Poe é interpretado por Moises Arias, ator colombiano que se tornou conhecido pelo papel de Rico, em Hannah Montana, mas o país não chega a ser citado no filme, nem a situação de seus pais. Tudo referente a geografia da família deste personagem é superficialmente apresentada nos cinemas enquanto o livro mastiga essas informações, descrevendo o tom de sua pele, fazendo-o contar a verdadeira história a seus amigos e, até mesmo, conversando em espanhol com sua mãe no telefone - cena que rende um dos momentos mais fofos do livro, aliás.
O drama familiar da Stella também é mais intenso no livro. Na versão fílmica, o seu pai é um mero plano de fundo, que mal é citado ou aparece na trama, enquanto no livro a personagem vive todo um drama devido a separação de seus pais após a morte da irmã, e todos estão sofrendo em silêncio com isso. Quando o homem resolve dar as caras na trama, é para já "reatar" com a mãe durante a cirurgia da filha, deixando de lado o esporro que Barb, a melhor de todas as enfermeiras, dá em dois adultos como se fossem crianças - uma das cenas mais poderosas do livro.
Mas não se engane, o filme também tem muitos pontos positivos. Por uma questão de gosto pessoal, eu diria que filmes possuem mais poder de chocar e emocionar que livros, pois o apelo visual e musical é gigantesco, principalmente por tornar mais perceptível a distância entre os protagonistas e o desejo estampado em seus rostos de poderem se tocar. É algo extremamente sufocante e desesperador de se assistir. Ou até mesmo pelo poder que, as vezes, uma iluminação ou trilha sonora utilizada corretamente têm o efeito de mudar completamente o clima de uma cena e deixá-la digna de derramar rios de lágrimas, como foi comigo neste filme.
Não que o livro não seja triste: embora seja um pouco mais cômico, como já citado, a versão literária carrega consigo a questão gradual que faz com que a obra, lentamente, mude de tom e se torne mais triste com o passar dos capítulos, mas ao meu ver, comete um grande deslize na reta final ao tentar incluir elementos fantásticos e deus ex machina na narrativa. Trata-se, especificamente, dos capítulos 25, 30 e 31.
No capítulo 25, Stella entra em contato com sua irmã falecida durante um momento em que ficou sem respirar e isso soou como uma tentativa falha de tentar dramatizar uma situação de afogamento que, por si só, já era dramática o suficiente, ou até mesmo de alegrar a trama, já que Stella tinha dúvidas pendentes com a irmã e uma conversa rápida, ainda que subconsciente, a tranquilizaria. De certo modo, foi uma cena bonita, mas analisando o contexto como um todo acabou por forçar a barra a ponto de quebrar o clima meticulosamente construído pelo capítulo anterior - e, confesso, me alegrei quando vi que esta cena não estava inclusa no filme.
Para as sequências 30 e 31, que poderiam ser consideradas como um "pós-créditos" do livro, narra-se o reencontro de Will e Stella oito meses após a última vez em que se viram, quando Will a deixou no hospital para que ela se recuperasse sem correr riscos maiores. Mesmo antes de conhecer o texto original, onde esse encontro não é contado, já o achei um tanto desnecessário: colabora, mais uma vez, para dar um ar mais alegre ao livro, forçando um final feliz que não precisava, ainda mais quando a causa do afastamento de Will foi tão justa e compreensível, feita unicamente porque ele amava tanto Stella a ponto de preferir viver sem ela para que ela pudesse viver.
Os desenhos, parte importante do fio narrativo por conectarem Stella inicialmente a sua irmã, Abby, e depois a Will, seu primeiro amor, não são deixados de lado no livro, ilustrando a capa do mesmo e sendo citados em seu interior, mas não são mais mostrados entre os capítulos, apenas descritos, deixando o trabalho para a imaginação, o que é bom, mas perdendo um pouco do impacto que o traço dos personagens, sútil, sarcástico ou desajeitado, que também são características de seus ilustradores, passassem um tanto quanto em branco.
No filme, com todo o apoio visual, as obras são muito bem apresentadas e ganham a força que me são apresentados no filme, demonstrando ao público como estas se relacionam com seus artistas e receptores, de modo que tornam-se elementos ativos para a continuidade da trama, como uma forma de comunicação verbo-visual que tornam a arte um dos pontos mais positivos do filme - enquanto o livro poderia ter inserido algumas ilustrações em seu miolo, mas optou por não fazê-lo.
Inicialmente, pelos trailers, a história parece ter um tom abusivo ou até mesmo sexista, no qual o espectador pode se perguntar qual a necessidade de colocar uma paciente com tantos riscos para se apaixonar e viver uma história perigosa, no qual o amor prevalece a sua saúde, mas o objetivo da narrativa não é de incentivo aos perigos, e sim de representatividade, de conscientização e de alerta. Tanto no livro quanto no filme.
Isso porque a obra mostra, com certo realismo, o dia a dia de uma adolescente que passa grande parte de sua vida em um hospital. Ela mora lá. Ela tem amigos lá. O que a impediria, portanto, de se apaixonar por outro paciente? Os riscos existem, ela os conhece, mas o amor não: o amor é irracional. O que não podemos é deixar que essa irracionalidade fale mais alto que a racionalidade proporcionada a nós por nossa mente, iniciando uma disputa entre coração e cabeça, e essa dualidade é muito bem colocada na trama.
Muito dos momentos dramáticos da narrativa se dão graças a essa luta na qual ambos os personagens querem ouvir seu coração, que é uma resposta mais fácil e menos dolorosa, mas sabem, no fundo, que precisam dar ouvidos a sua cabeça, pois esta é a coisa certa a se fazer. Ainda que seja algo que, no momento, os trará tristeza, a longo prazo é a única opção possível. E o filme/livro não permite que este romance seja transformado em uma morte romantizada. É tudo sutilmente tratado para que percebamos que é muito bom viver o amor, sim, mas para isso precisamos, em primeiro lugar, viver.
Em linhas gerais, a leitura é bem gostosa e fluída, mas o assistir ao filme também é: são 2h15m de uma mistura apaixonante de romance, drama e comédia que te prendem a atenção do começo ao fim. O que dirá qual das versões de A Cinco Passos de Você não são seus elementos próprios ou o tom escolhido para cada formato, mas o gosto pessoal do leitor-espectador: somente cada um, com suas experiências pessoais, poderão dizer o que é considerado melhor por si, para si, e nunca para o outro.
Para mim, confesso que fica sem resposta: desta vez, prefiro não escolher um preferido entre o filme e o livro, pois ambas as obras, cada qual com seus pontos altos e baixos, foram ótimas e não merecem entrar em algum tipo de ranking sem sentido. O mais importante para mim, nesta publicação, não foi qualificá-las ou classificá-las, mas sim apontar as diferenças e semelhanças entre as duas versões de uma mesma boa história, que foi gentilmente contada com excelência em ambas mídias.
Para mim, confesso que fica sem resposta: desta vez, prefiro não escolher um preferido entre o filme e o livro, pois ambas as obras, cada qual com seus pontos altos e baixos, foram ótimas e não merecem entrar em algum tipo de ranking sem sentido. O mais importante para mim, nesta publicação, não foi qualificá-las ou classificá-las, mas sim apontar as diferenças e semelhanças entre as duas versões de uma mesma boa história, que foi gentilmente contada com excelência em ambas mídias.
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