A entrada na vida adulta é um dos evento mais superestimados da existência humana. Regado de ilusões e despreparo, o que já seria suficientemente ruim torna-se ainda pior com um elemento para lá de comum: a pressão, principalmente a pressão familiar. Loja de Unicórnios, novo filme da Netflix, aborda o assunto sob o ponto de vista da "vítima". O post contém spoilers do longa-metragem.
Kit, personagem de Brie Larson, desde cedo demonstrou não só gosto como talento para as artes, se dando bem com um pincel e uma folha de papel em mãos, dando asas a sua imaginação, libertando sua criatividade em forma de arte. Uma frustrante experiência na faculdade de Belas Artes a deprimiu e reprimiu, mas não teve muito tempo para repensar suas perspectivas de vida quando começou a ser apedrejada pelas expectativas de seus pais.
"Você não pode ficar vendo desenho animado o dia todo."
Comparada ao vizinho-sem-sonho-sem-criatividade-sem-graça a exaustão, a protagonista age por impulso e envolve-se em um trabalho suspeito com colegas de trabalho ainda mais bizarros. Seu chefe, além das tendências sexualmente abusivas que renderiam um texto a parte sobre como é ser uma mulher em um ambiente predominantemente masculino e machista, alimenta falsas esperanças de crescimento na personagem de Larson.
"Você não vai querer ser estagiária pra sempre, né?"
O resultado dessa experiência profissional forçada poderia ter sido aterrorizante, digno de traumas, mas a poética positivista do filme nos permite um final feliz pelo seu objetivo de transmitir uma mensagem: não desista dos seus sonhos, por mais distantes que eles pareçam estar. A narrativa de Kit em sua jornada de autodescoberta é muito triste, sim, mas extremamente inspiradora.
"A coisa mais adulta que você pode fazer é fracassar nas coisas que mais gosta."
Além do âmbito profissional, o filme aborda ainda uma pressão familiar em cima de relacionamentos amorosos, porque é simplesmente inaceitável que uma mulher de quase 30 anos continue solteira, não é mesmo? Claro que não! Mas a família da protagonista - e de muitas outras mulheres por aí - parecem ainda não entender este conceito tão óbvio e forçam encontros desconfortáveis com vizinhos ou filhos de amigos.
"Todos precisam de um pouco de mágica em suas vidas, mesmo os adultos."
Virgil não era a parte que faltava em Kit pois a mesma já estava completa consigo mesma, em referência ao livro de Shel Silverstein, mas o apoio que este lhe proporciona traz forças a personagem, tornando a sua dolorosa jornada mais confortável enquanto aprende, ainda, a se relacionar com outras pessoas, saindo novamente de sua zona de conforto para amadurecer aspectos ainda desconhecidos de si mesma, mas desta vez por livre e espontânea vontade.
"Se você fosse um prédio, seria assim."
Ele pode não acreditar em unicórnios, mas ele acredita em Kit e isso, ao contrário da descrença e frequentes cobranças familiares que a deixavam em um estado de humilhação, levanta o astral da garota e a permite ser ninguém mais do que si mesma, com ou sem unicórnio, mas com uma percepção muito mais ampla de si, das pessoas ao seu redor e do mundo, sentindo na própria pele as derrotas, mas também as conquistas.
"Toda pessoa tem um sonho"
Então, quando se sentir pressionado por seus pais, amigos ou pela sociedade como um todo, seja no âmbito acadêmico, profissional ou amoroso, lembre-se que a vida é sua e que a única pessoa que pode tomar decisões por você é você mesmo. Seu emprego, seu interesse romântico, sua faculdade, seus hobbies... é você quem vive, é você quem escolhe. Escolha sua felicidade. Não seja mais uma pessoa a apertar botões mecanicamente sem se questionar o porquê. Adote um unicórnio, exponha sua arte, siga seus sonhos. O mundo é seu, se você quiser.
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