Escrito por Mary Ann Shaffer e finalizado por Annie Barrows, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata (sim, título longo) é um romance epistolar publicado em 2009 no Brasil pela Editora Rocco, popularizando-se no país após o lançamento de sua adaptação fílmica pela Netflix, em 2018.
Ambientado em 1946, logo após a Segunda Guerra Mundial, narra-se por meio de cartas a história de uma escritora, Juliet, que se encanta pela a um grupo de leitores das Ilhas Guernsey, no Canal da Mancha, que iniciaram seu clube do livro como forma de sobreviver à Guerra e acabaram encontrando felicidade e esperança na leitura.
A obra tem pouco mais de 300 páginas mas é de uma leitura extremamente suave e dinâmica: toda apresentada em cartas, bilhetes e telegramas, traz em cada texto as peculiaridades de seu autor e apresenta, ao leitor, toda uma narrativa sobre a importância da leitura e da amizade sob diversos pontos de vistas que se unem harmoniosamente.
De ficção histórica, mistura informações reais a ficção: de fato a autora do livro, Mary, esteve em Guernsey após a guerra e, fascinada, depositou em sua protagonista um pouco da emoção que sentiu ao ouvir as narrativas delicadas dos sobreviventes às tragédias da Ocupação Alemã e as consequências por ela deixadas.
O cenário é pesado, de um clima pós-apocalíptico, quase. Seria fácil escrever um livro soturno sobre a Segunda Guerra Mundial, mas Mary se arrisca em trazer o bom humor à tona pela primeira vez desde 1940, com a chegada dos alemães à ilha. Em uma narrativa leve e otimista, apresenta personagens que sofreram muito e, agora, estão encorajados a viverem o melhor de si.
Juliet, a principal, é romântica e sonhadora, mas está desolada após o fim da guerra, o que tem afetado sua produção textual, e precisa respirar novos ares para se inspirar: em Guernsey se apaixona por seu povo e por sua história e, mesmo sem perceber logo de cara, acaba por descobrir mais sobre si mesma e suas ambições para o futuro, recuperando sua vontade de viver.
Todos os demais personagens são igualmente carismáticos e desesperados por uma nova vida, cada qual a sua maneira. Os destaques vão para Dawsey, com sua timidez adorável, Sidney, o editor dos sonhos, Kit, uma garotinha para lá de querida, e Isola, com sua excentricidade que a torna tão querida - sem deixar Elizabeth de lado, que revela-se tão essencial para a narrativa quanto a protagonista: sem ela, nenhum dos eventos narrados teriam acontecido. Ela é o verdadeiro fio condutor da obra.
O texto confere, ainda, a importância das artes para a humanidade, sendo os livros - e a leitura dos mesmos - debatidos no enredo como capazes de trazer forças mesmo nas situações de maiores fraquezas. Como descreve a própria autora em seus agradecimentos: "Espero, também, que meu livro possa ilustrar minha crença de que o amor pela arte - seja poesia, prosa, pintura, escultura ou música - permite que as pessoas ultrapassem qualquer barreira inventada pelo homem".
Um livro que celebra a amizade, a palavra e a esperança com tamanha sutileza, alto-astral e sentimentalismo merece ser lido e aclamado. Recomenda-se, ainda, o filme: apesar de diferentes em conteúdo, com muitas transgressões tomadas pela adaptação para o audiovisual, ambos são obras respeitáveis e de bom gosto que devem ser apreciadas.
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