Love Alarm e a tecnologia que não controla o coração

Love Alarm chegou à Netflix na última quinta-feira (22) e embora passe longe de ser um drama perfeito, abordou muito bem como o uso excessivo de certas tecnologias podem ser prejudiciais, com um aplicativo de celular que pode mudar o modo como os humanos se relacionam romanticamente, mas que jamais conseguirá controlar o coração.

Nesta realidade paralela, Love Alarm é o app do momento: sua função é avisar o usuário toda vez que alguém que gosta dele se aproxima, a um raio de 10 metros, assim como também pode avisar seu crush que você está a fim dele, desde que seu Love Alarm esteja instalado e ativado no momento da proximidade. 

Com isso, novos casais também são formados, unindo por uma notificação aquilo que não conseguiriam dizer com palavras, e os cortejamentos a moda antiga vão sendo deixados de lado: agora, se você quiser paquerar alguém basta fazer o Love Alarm desta pessoa tocar - e se o seu tocar também, eis um namoro.

Assim, os jovens casais começaram a usar o aplicativo para comprovar seus sentimentos um pelo outro, como se fosse um "teste de fidelidade", e isso já é bastante bizarro, mas casos piores são os de pessoas que ficaram obcecadas com os números, levando a casos de extrema infelicidade e até suicídio quando os resultados esperados não são atingidos. 

Dessa forma, o app acaba relacionando-se com a vida real de muitos jovens contemporâneos que, em um mundo digital regado a likes, seguidores e interações digitais, têm sua felicidade medida com o número de corações recebidos em uma postagem no Twitter ou Instagram. Aproxima-se ainda dos episódios Nosedive e Hang The DJ, de Black Mirror, que abordam assuntos semelhantes.

A mensagem é clara: embora tecnologias como o Love Alarm tenham seus lados positivos, como a possibilidade de novas uniões, a obsessão tornam-as perigosas. A dependência e falta de criticidade quanto a seu uso podem levar a situações desagradáveis, como nos casos extremos apresentados no drama e que, infelizmente, também são vistos na vida real. Como a própria empresa do app afirma, não há garantia de segurança e felicidade.

Tal obsessão, ainda, leva pessoas ao esquecimento do que é o verdadeiro amor, do que é o romance: Não só são rapidamente habituados a terem seus sentimentos expostos somente pelo aplicativo, deixando de revelá-los por meio de declarações e flertes, que rapidamente desaparecem do mundo juvenil, como esquecem-se, inclusive, de que o Love Alarm pode até revelar seus sentimentos, mas não é capaz de controlá-los.

Colocar um escudo no aplicativo não protege seu coração: seu coração está dentro de você, não em um aparelho de celular. Você não deixará de gostar de alguém só porque deixou de fazer o Love Alarm desta pessoa tocar. As notificações podem até ser controladas, mas nunca a paixão. Com ou sem aplicativo, é impossível de mandar no coração: somos apenas um fantoche à sua disposição e, embora possamos nos esconder atrás das cortinas, continuaremos dançando enquanto ele mandar.

E ainda que o drama tenha ficado com um desfecho em aberto, essa é a grande mensagem que tem para passar. Não importa quanto o tempo passe e as tecnologias acompanhem essa evolução, ainda somos seres humanos, racionais e emocionais, que têm sentimentos que não podem ser resumidos a números de uma programação. Mais do que nunca precisávamos desse lembrete.

Fotos: Divulgação/Netflix