O Menino que Falava a Língua dos Cães é o livro de estreia de Joanna Gruda, nascida na Polônia. A obra apresenta as lembranças da juventude de seu pai, que aos 14 anos já havia sido Julian Gruda, Jules Kryda e Roger Binet. A obra foi publicada por em aqui em 2018, pela Bertrand Brasil, com tradução de Clóvis Marques.
Ao contrário do que o nome sugere, não é uma história ao estilo Marley & Eu, Quatro Vidas de um Cachorro ou qualquer destes best-sellers sobre a relação dono-cão, mas sobre um menino que sobreviveu à Segunda Guerra e, nela, ganhou a fama de se comunicar com os animais.
Filho de ativistas do Partido Comunista, foi tirado de seus pais após o nascimento para a própria segurança, indo viver com os tios, que o criaram como seu próprio bebê — e só viriam a revelar-lhe a verdade anos mais tarde. Neste cenário, o rapazinho aprendeu sobre e se interessou desde cedo pelo comunismo.
O pequeno Julian só não esperava que seu destino de migrar de lar em lar estava descrito antes mesmo de seu nascimento, mudando-se para a França ainda na infância até passar a se considerar mais francês que polonês, em um das muitas crises de identidade que viria a enfrentar durante os anos de ocupação.
Apesar de narrada por uma criança, a não é tratada com inocência ou romantizações, mas sim mostrando a dura realidade sob o olhar de um jovem que foi obrigado a amadurecer muito cedo. Sem deixar a sensibilidade de lado, conta as sutilezas de uma juventude cercada por resiliência, mas também por imaginação e insegurança.
Solitário, grande parte da jornada do então Jules é acompanhada por um livro, demonstrando ainda o valor da leitura em meio aos tempos difíceis, encontrando na fantasia de Júlio Verne um escape que mal imaginaria precisar, mas que lhe é muito bem-vindo.
Sem querer dar spoilers, é na solidão, ainda, que encontra sua grandiosidade, quando o título de O Menino que Falava a Língua dos Cães faz jus a uma narrativa de barreiras linguísticas e culturais que o moldou, mas não o definiu permanentemente. A guerra é desumana, e acompanhar estes pequenos resquícios de humanidade, de sobrevivência, de resistência, é reconfortante.
Joanna Gruda é perfeita ao contar a história de seu pai sem grandes sentimentalismos ou heroísmos, apresentando-o de forma nua e crua, com suas virtudes e defeitos, mas também com a margem de amadurecimento que presenciou não só nos anos de guerra, mas em seu pós, reconstruindo a si mesmo uma imagem inesperada, mas que pôde dar origem a essa incrível narrativa.
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