Em 13 de março foi lançada na Netflix a segunda temporada de Kingdom, popular drama sul-coreano ambientado durante a Dinastia Joseon que, em meio a muita ação e ficção, conta como a península foi arrasada pela chegada de uma misteriosa epidemia viral que transformava suas vítimas em zumbis aterrorizantes que ameaçavam os poucos sobreviventes.
O que ninguém esperava é que, na vida real, estaríamos vivendo uma situação semelhante de pandemia — embora, ao menos por enquanto, sem zumbis. Com o coronavírus avançando em todo o mundo, Kingdom ganhou grande destaque internacional e caiu no interesse do público, que busca no entretenimento as semelhanças com nosso cotidiano.
Kim Eunhee, criadora e roteirista da série, se uniu ao diretor Park Inje em entrevista recente ao The Hollywood Reporter, no qual comentam sobre o paralelo de Kingdom com a atual condição global de saúde e a resposta do público a essas ligações.
A entrevista começa com a dupla respondendo sobre como está o clima de pandemia na Coreia do Sul: "Atualmente estou trabalhando no roteiro da minha próxima série dramática, Jirisan. Embora houvesse uma maior sensação de medo com o número de casos confirmados aumentando em fevereiro, hoje em dia a maioria das pessoas confia nas políticas do governo e se abstém de deixar suas casas, pois todos fazemos nossa parte para impedir a propagação do vírus", comenta Kim.
Park também fala sobre o assunto: "O COVID-19 estourou nos últimos estágios de pós-produção da [segunda temporada] de Kingdom, então eu estou em quarentena em casa desde então. Como outros países, a disseminação do medo na Coreia está diminuindo. Graças a medidas relativamente precoces, a Coreia não teve infecções em larga escala. Mas alguns cinemas estão fechados, e estamos evitando apresentações ou viagens."
Entrando no centro da questão, o portal questiona sobre a relação inesperada entre o lançamento da segunda temporada de Kingdom e as atuais condições mundiais de saúde, ao qual Kim comenta que é natural que seja feita a conexão entre os eventos: "Como a série lida com uma pandemia, acho inevitável que o programa seja comparado à realidade atual e também seja afetado por ela, seja de forma boa ou ruim. Embora a série seja um produto da imaginação selvagem de seus criadores, espero que a epidemia em breve esteja sob controle, como em nossa série."
Ao ser perguntada sobre as pessoas estarem mais interessadas no drama em meio a uma pandemia na vida real, Kim revela acreditar que a série pode ajudar neste momento: "Kingdom lida com uma praga. Tentei colocar mais foco na história das pessoas que respondem a ela do que na própria praga. Alguns lutam contra, outros desistem e outros usam para subir ao poder. Se os espectadores se concentrassem mais nesses personagens, acho que isso poderia aliviar o medo da epidemia."
Park concorda: "Eu não acho que as pessoas hesitariam em assistir a série porque ela lida com uma pandemia; eu acho que eles aceitarão isso como um gênero [de série]. Kingdom tem um forte valor de entretenimento, e acho que os espectadores coreanos não se sentem mais familiarizados com o gênero zumbi. Também acho que por ser uma peça de época, com a qual muitos estão familiarizados, ajuda a diminuir a barreira. Espero que, pelo menos enquanto os espectadores assistem a Kingdom, eles possam se divertir."
Seguindo a conversa, Kim Eunhee e Park Inje falam ao The Hollywood Reporter sobre a política coreana, o sucesso de Kingdom e mais detalhes sobre os bastidores da produção. Confira a tradução completa da entrevista, com as perguntas destacadas em cores:
As pessoas na Coréia estão traçando paralelos do programa com o atual clima político lá?
Kim: Durante todo o tempo em que eu estava escrevendo Kingdom, o quadro branco em meu escritório sempre lia: "O que é política?" A pergunta que eu queria fazer era: "Quem é um líder honesto que realmente pensa nas pessoas em meio a uma crise provocada por uma doença desconhecida?" Não tenho certeza se o público coreano concorda, mas acho que agora é a hora de procurar respostas para essas perguntas. Pessoalmente, acho que o governo coreano, o KCDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia) e os profissionais médicos estão fazendo um ótimo trabalho.
Park: Não foi intencional, mas já vi comentários que traçam paralelos e vinculam o programa ao que está acontecendo no mundo real. Por exemplo, as pessoas se referem ao príncipe Chang e ao grupo que foge de zumbis como "distanciamento social" ou discutem as próximas eleições gerais na Coreia [em termos de] liderança de Chang, etc.
O que a Netflix lhe contou sobre a resposta à primeira temporada no mundo inteiro? O que te surpreendeu?
Kim: Por meio das mídias sociais e comentários on-line, fiquei extremamente grata por ver até os menores papéis recebendo tanto amor. O que foi interessante na primeira temporada foi como os fãs globais reagiram e se relacionaram com os elementos coreanos no programa, como valores confucionistas, hanbok (traje tradicional coreano), hanok (casas tradicionais coreanas) ou o palácio. Também gostei muito de assistir a série dublada em outros idiomas.
Park: Eu li muitos comentários e discussões sobre Kingdom em fóruns online. Definitivamente, vejo muito interesse no programa. Fiquei mais surpreso com a forma como foi recebido globalmente. Foi particularmente interessante ver quantos estavam interessados nas roupas quando a primeira temporada foi lançada, e especialmente o fascínio pelo gat, um tipo de chapéu. Então, na segunda temporada, tentamos mostrar uma variedade maior de chapéus e também focamos em roupas de luto por sangbok. Sangbok é um tipo de roupa funerária e, no passado, todos os coreanos tinham que usar sangbok por um certo período de tempo quando o rei falecia. Enquanto as pessoas vestem preto no ocidente, os coreanos tradicionalmente usam branco. Espero que mais pessoas possam apreciar a beleza do hanbok na segunda temporada.
Park, quais foram alguns dos desafios únicos de filmar esse show?
Park: Foi a luta contra as estações. Começamos a filmar no final do inverno, gravamos durante toda a primavera e terminamos no verão. No inverno, os zumbis tinham que estar descalços e usar roupas muito finas - como você sabe, nossos zumbis estão correndo o tempo todo, então houveram tensões físicas. E quando estava mais quente, tivemos que trazer neve artificial e também usar VFX durante a pós-produção para criar inverno na tela.
Kim, vi outra entrevista que você fez, onde disse que havia apresentado a ideia para Kingdom, mas ninguém na indústria local estava realmente interessado em um show de zumbis, e Train to Busan foi o que tornou a ideia mais atraente. Você pode expandir isso?
Kim: Antes de Train to Busan, mesmo na indústria cinematográfica, a noção dominante era que o gênero zumbi era um nicho que atraía apenas um pequeno grupo de fãs. Isso foi ainda mais importante na série dramática. Na Coreia, os dramas de TV geralmente são veiculados nas chamadas emissoras públicas, e esses canais geralmente são assistidos pelas famílias, o que significa que os programas geralmente são classificados como mais baixos para um público mais amplo e são avaliados com regras mais rígidas. Fumar e falar palavrões não é permitido e, mesmo que as espadas sejam permitidas, as facas devem ser borradas. Nem preciso dizer que cenas sangrentas que mostram danos a cadáveres são tabus. Sob tais circunstâncias, era quase impossível um show de zumbis em que zumbis só podem ser parados por decapitação para se transformar em uma série de drama!
A entrevista começa com a dupla respondendo sobre como está o clima de pandemia na Coreia do Sul: "Atualmente estou trabalhando no roteiro da minha próxima série dramática, Jirisan. Embora houvesse uma maior sensação de medo com o número de casos confirmados aumentando em fevereiro, hoje em dia a maioria das pessoas confia nas políticas do governo e se abstém de deixar suas casas, pois todos fazemos nossa parte para impedir a propagação do vírus", comenta Kim.
Park também fala sobre o assunto: "O COVID-19 estourou nos últimos estágios de pós-produção da [segunda temporada] de Kingdom, então eu estou em quarentena em casa desde então. Como outros países, a disseminação do medo na Coreia está diminuindo. Graças a medidas relativamente precoces, a Coreia não teve infecções em larga escala. Mas alguns cinemas estão fechados, e estamos evitando apresentações ou viagens."
Entrando no centro da questão, o portal questiona sobre a relação inesperada entre o lançamento da segunda temporada de Kingdom e as atuais condições mundiais de saúde, ao qual Kim comenta que é natural que seja feita a conexão entre os eventos: "Como a série lida com uma pandemia, acho inevitável que o programa seja comparado à realidade atual e também seja afetado por ela, seja de forma boa ou ruim. Embora a série seja um produto da imaginação selvagem de seus criadores, espero que a epidemia em breve esteja sob controle, como em nossa série."
Ao ser perguntada sobre as pessoas estarem mais interessadas no drama em meio a uma pandemia na vida real, Kim revela acreditar que a série pode ajudar neste momento: "Kingdom lida com uma praga. Tentei colocar mais foco na história das pessoas que respondem a ela do que na própria praga. Alguns lutam contra, outros desistem e outros usam para subir ao poder. Se os espectadores se concentrassem mais nesses personagens, acho que isso poderia aliviar o medo da epidemia."
Park concorda: "Eu não acho que as pessoas hesitariam em assistir a série porque ela lida com uma pandemia; eu acho que eles aceitarão isso como um gênero [de série]. Kingdom tem um forte valor de entretenimento, e acho que os espectadores coreanos não se sentem mais familiarizados com o gênero zumbi. Também acho que por ser uma peça de época, com a qual muitos estão familiarizados, ajuda a diminuir a barreira. Espero que, pelo menos enquanto os espectadores assistem a Kingdom, eles possam se divertir."
Seguindo a conversa, Kim Eunhee e Park Inje falam ao The Hollywood Reporter sobre a política coreana, o sucesso de Kingdom e mais detalhes sobre os bastidores da produção. Confira a tradução completa da entrevista, com as perguntas destacadas em cores:
As pessoas na Coréia estão traçando paralelos do programa com o atual clima político lá?
Kim: Durante todo o tempo em que eu estava escrevendo Kingdom, o quadro branco em meu escritório sempre lia: "O que é política?" A pergunta que eu queria fazer era: "Quem é um líder honesto que realmente pensa nas pessoas em meio a uma crise provocada por uma doença desconhecida?" Não tenho certeza se o público coreano concorda, mas acho que agora é a hora de procurar respostas para essas perguntas. Pessoalmente, acho que o governo coreano, o KCDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia) e os profissionais médicos estão fazendo um ótimo trabalho.
Park: Não foi intencional, mas já vi comentários que traçam paralelos e vinculam o programa ao que está acontecendo no mundo real. Por exemplo, as pessoas se referem ao príncipe Chang e ao grupo que foge de zumbis como "distanciamento social" ou discutem as próximas eleições gerais na Coreia [em termos de] liderança de Chang, etc.
O que a Netflix lhe contou sobre a resposta à primeira temporada no mundo inteiro? O que te surpreendeu?
Kim: Por meio das mídias sociais e comentários on-line, fiquei extremamente grata por ver até os menores papéis recebendo tanto amor. O que foi interessante na primeira temporada foi como os fãs globais reagiram e se relacionaram com os elementos coreanos no programa, como valores confucionistas, hanbok (traje tradicional coreano), hanok (casas tradicionais coreanas) ou o palácio. Também gostei muito de assistir a série dublada em outros idiomas.
Park: Eu li muitos comentários e discussões sobre Kingdom em fóruns online. Definitivamente, vejo muito interesse no programa. Fiquei mais surpreso com a forma como foi recebido globalmente. Foi particularmente interessante ver quantos estavam interessados nas roupas quando a primeira temporada foi lançada, e especialmente o fascínio pelo gat, um tipo de chapéu. Então, na segunda temporada, tentamos mostrar uma variedade maior de chapéus e também focamos em roupas de luto por sangbok. Sangbok é um tipo de roupa funerária e, no passado, todos os coreanos tinham que usar sangbok por um certo período de tempo quando o rei falecia. Enquanto as pessoas vestem preto no ocidente, os coreanos tradicionalmente usam branco. Espero que mais pessoas possam apreciar a beleza do hanbok na segunda temporada.
Park, quais foram alguns dos desafios únicos de filmar esse show?
Park: Foi a luta contra as estações. Começamos a filmar no final do inverno, gravamos durante toda a primavera e terminamos no verão. No inverno, os zumbis tinham que estar descalços e usar roupas muito finas - como você sabe, nossos zumbis estão correndo o tempo todo, então houveram tensões físicas. E quando estava mais quente, tivemos que trazer neve artificial e também usar VFX durante a pós-produção para criar inverno na tela.
Kim, vi outra entrevista que você fez, onde disse que havia apresentado a ideia para Kingdom, mas ninguém na indústria local estava realmente interessado em um show de zumbis, e Train to Busan foi o que tornou a ideia mais atraente. Você pode expandir isso?
Kim: Antes de Train to Busan, mesmo na indústria cinematográfica, a noção dominante era que o gênero zumbi era um nicho que atraía apenas um pequeno grupo de fãs. Isso foi ainda mais importante na série dramática. Na Coreia, os dramas de TV geralmente são veiculados nas chamadas emissoras públicas, e esses canais geralmente são assistidos pelas famílias, o que significa que os programas geralmente são classificados como mais baixos para um público mais amplo e são avaliados com regras mais rígidas. Fumar e falar palavrões não é permitido e, mesmo que as espadas sejam permitidas, as facas devem ser borradas. Nem preciso dizer que cenas sangrentas que mostram danos a cadáveres são tabus. Sob tais circunstâncias, era quase impossível um show de zumbis em que zumbis só podem ser parados por decapitação para se transformar em uma série de drama!
Eu sinto que a mitologia em torno da planta da ressurreição e dos zumbis está muito bem feita aqui. Kim, quando você estava conceituando os zumbis no Kingdom, que elementos de outros projetos desse gênero você queria evitar ou adotar? Eu sinto que todo mundo tem um pensamento de "os zumbis não devem ser capazes de fazer isso" em algum momento, ou "se eu estivesse em um apocalipse zumbi, eu faria X, Y e Z", mas nem todos conseguem escrever seus próprios roteiros.
Kim: Embora eu quisesse expressar a tensão que vem com um show de zumbis, não queria contar a história de um mundo apocalíptico. A planta da ressurreição é um símbolo de políticas erradas e uma ferramenta para infectar os famintos, mas também é a solução para a praga, embora temporária. Quando os personagens são vistos correndo na série, eu queria que eles corressem em direção à esperança, não importa o quão difícil.
Um dos aspectos fascinantes do programa para mim é como as pessoas separam informações confiáveis e não confiáveis. Por exemplo, as notas do médico parecem carregar o peso da verdade indiscutível. Também no final da temporada, quando o príncipe Chang diz aos membros do conselho que falsifiquem sua morte. Existe um precedente histórico para a confiabilidade dos registros escritos?
Kim: Esta é uma pergunta extremamente difícil. Como não sou especialista em história, me desculpe por não poder fornecer informações mais precisas. Mas, para explicar o mundo de Kingdom, como imaginei, cada personagem tem suas próprias razões para acreditar nas anotações do médico. O príncipe viu o monstro na câmara do rei e testemunhou os pacientes infectados em Dongnae; Lorde Ahn Hyeon acreditou porque os criou com as próprias mãos três anos atrás; o chefe da Divisão de Comando Real acreditou porque testemunhou Ahn Hyeon voltar à vida; o magistrado chefe foi motivado por sua suspeita em relação ao clã Haewon Cho. Quanto à cena em que o príncipe Chang ordena falsificação de sua morte, Os Anais da Dinastia Joseon, uma coleção de registros de todos os assuntos relacionados à família real de Joseon, são reconhecidos como um registro histórico objetivo que era guardado por oficiais na época com suas vidas. Mas imaginei que isso fosse possível na estação posterior do Reino, pois o palácio real em Joseon estava em um caos sem precedentes devido à epidemia de matar todos os oficiais e as ajudas judiciais. Por favor, veja isso como um elemento dramático que obviamente não ocorreu no Joseon real.
Quanta história você tem para contar? Quantas temporadas você imagina que a série terá?
Kim: Estranhamente, Kingdom é uma série que me dá mais energia quanto mais eu a escrevo. O elenco e a equipe têm uma ótima química, e há muito mais para contar. Se os espectadores permitirem, eu adoraria vê-lo se desenvolver até a 10ª temporada.
Para o público americano que pode ficar parado em casa, existem outras séries do tipo sageuk que você pode recomendar para nos deixar ir até a terceira temporada?
Kim: Se você está perguntando sobre outro sageuk coreano, recomendo Dae Jang Geum. É um dos meus dramas favoritos e o personagem principal também é uma enfermeira, como em Kingdom.
Park: Os sábios coreanos têm uma originalidade única, diferente das peças do período japonês ou chinês. Há um sageuk que é mais acessível que outros; empresta o enredo de O Príncipe e o Mendigo de Mark Twain e é chamado Masquerade (Gwanghae). Ryu Seungryong, que interpreta Cho Hakju em Kingdom, estrela este filme. Foi um grande sucesso na Coreia e conta uma história intrigante. Eu recomendo.
Kingdom estreou na Netflix em janeiro de 2019 e, em março de 2020, retornou para o lançamento de sua segunda temporada. Criada e escrita por Kim Eunhee, a produção de ficção-histórica ambientada na Dinastia Joseon apresenta como um vírus misterioso chegou à península, transformando seu povo em zumbis. Em paralelo, o príncipe Chang luta para expor a verdade da família real, conforme a rainha ascende em meio a mentiras.
O elenco principal conta com Ju Jihoon (Hyena), Bae Doona (Sense8) e Ryoo Seungyong (Miracle in Cell No. 7). A terceira temporada já é muito esperada pelos fãs, mas ainda não foi oficializada pela plataforma de streaming.
Fonte: The Hollywood Reporter
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