Escrito por G. Profeta e ilustrado por Ligia Zanella, Projeto Hibakusha é um livro reportagem metalinguístico e em quadrinhos que acompanha um jornalista brasileiro e sua jornada, do interior de São Paulo ao Japão, para entender o que a bomba atômica lançada sobre Hiroshima significou para as pessoas que estavam lá, no dia 6 de agosto de 1945.
Dividido em três partes, cada qual mostra um dos entrevistados de G. Profeta: no primeiro, o jornalista vai a cidade de São Paulo para conversar com Takashi Morita, um senhor de 96 anos que era um soldado ativo em Hiroshima no dia do atentado e, hoje, mora no Brasil e se tornou um ativista contra o uso de armas nucleares, palestrando em todo o mundo.
É autor, ainda, do livro A Última Mensagem de Hiroshima, já lido e resenhado pelo Elfo Livre, e a obra se complementa ao Projeto Hibakusha para conhecer mais a fundo a vida, obra e luta do senhor Morita, figura de exímia importante na luta pelos direitos dos Hibakusha no Brasil.
A segunda entrevistada é a senhora Junko Watanabe, que tinha apenas dois anos quando a bomba explodiu e foi atingida pela chuva radioativa. Ela também mora em São Paulo hoje e conta que só foi descobrir ser uma Hibakusha aos 38 anos de idade: sem lembranças de uma infância tão remota, viveu sob o segredo dos pais, que esconderam tal fato para protegê-la do preconceito que muitos outros sobreviventes enfrentaram.
Entretanto, foi somente nesta quarta-feira, 29 de julho de 2020, que o Tribunal Distrital de Hiroshima reconheceu os afetados pela chamada "chuva negra" como Hibakusha: uma luta que durou 75 anos para que seus oitenta demandantes, com idades entre 70 a 90 anos, recebam a devida assistência médica garantida às vítimas do bombardeio.
Entretanto, foi somente nesta quarta-feira, 29 de julho de 2020, que o Tribunal Distrital de Hiroshima reconheceu os afetados pela chamada "chuva negra" como Hibakusha: uma luta que durou 75 anos para que seus oitenta demandantes, com idades entre 70 a 90 anos, recebam a devida assistência médica garantida às vítimas do bombardeio.
Ambos os relatos são extremamente sensíveis, seja pela emoção sempre presente na voz dos Hibakusha ao relembrarem tais eventos dolorosos de suas vidas, ou pela majestosidade do traço de Ligia Zanella, que conseguiu converter as entrevistas presenciais aos quadrinhos de forma tão sincera que parece, de fato, estarmos assistindo a uma vídeo-reportagem quadro por quadro.
No terceiro capítulo, entretanto, é que o reino da fantasia ganha espaço nos quadrinhos: enquanto até agora tudo foi documental e biográfico, com registros ilustrados das entrevistas e das memórias destas pessoas reais transformadas em personagens, o terceiro leva G. Profeta direto ao Japão para um encontro com A Morte, fantasticamente desenhada por Zanella. Sem spoilers, trata-se de um momento muito reflexivo da narrativa, para o leitor fechar o livro transformado.
Tudo isso não seria possível sem uma terceira pessoa: Priscila Nakajima é a designer responsável pela magnífica diagramação da obra que, quando por quadro, página por página, leva o leitor para dentro dos desenhos de Lígia, da narrativa de Profeta e da mensagem mais singela de amor e paz deixada por Morita e Watanabe.
Ligia Zanella e G. Profeta participaram do Encontro Ilustrado, que aconteceu em formato de live no Facebook da IlustrA na última quarta-feira (29). O Elfo Livre aproveitou a oportunidade on-line para perguntar ao G. Profeta sobre a intenção metalinguística da obra, ao qual revela ter sido um dos grandes pilares para Projeto Hibakusha, com um jornalista como personagem para cumprir sua função:
"Era uma ideia desde o começo que fosse não uma reportagem sobre os sobreviventes da bomba atômica, mas uma reportagem sobre a reportagem sobre os sobreviventes da bomba atômica. [...] Tradicionalmente, se a gente pensar no discurso jornalístico, o jornalista é um narrador que se esconde atrás do texto [...] porque a ideia é que os fatos falem por si mesmo", Profeta continua, afirmando que Projeto Hibakusha foi criado para que possa "ser utilizado para discutir alguns questões do que o jornalismo é, do que ele deveria ser, do que ele pode ser e de como ele está mudando."
Apesar de um tema tão tenso quanto a Segunda Guerra Mundial, não há espaço para vingança em Projeto Hibakusha: seja na fala dos entrevistados ou na interpretação dos autores, o sentimento é de anti-guerra e de espalhar este conceito pacífico aos seus leitores para que não se esqueçam das atrocidades dessa época, de modo que a história jamais se repita. わすれないで (wasurenaide: não se esqueça, em português), lê-se no lindo marcador que acompanha a edição física.
A obra foi lançada de forma independente após um projeto bem sucedido de financiamento lançado pelo Catarse: foram 260 pessoas que ajudaram Projeto Hibakusha a ganhar vida dos papéis e, com 178% de meta, transformou-se em um verdadeiro sucesso. Àqueles que não adquiriram a obra pelo Catarse poderão comprá-la pela loja virtual Vitrine da Li ou conversando diretamente com os autores.
No terceiro capítulo, entretanto, é que o reino da fantasia ganha espaço nos quadrinhos: enquanto até agora tudo foi documental e biográfico, com registros ilustrados das entrevistas e das memórias destas pessoas reais transformadas em personagens, o terceiro leva G. Profeta direto ao Japão para um encontro com A Morte, fantasticamente desenhada por Zanella. Sem spoilers, trata-se de um momento muito reflexivo da narrativa, para o leitor fechar o livro transformado.
Tudo isso não seria possível sem uma terceira pessoa: Priscila Nakajima é a designer responsável pela magnífica diagramação da obra que, quando por quadro, página por página, leva o leitor para dentro dos desenhos de Lígia, da narrativa de Profeta e da mensagem mais singela de amor e paz deixada por Morita e Watanabe.
Ligia Zanella e G. Profeta participaram do Encontro Ilustrado, que aconteceu em formato de live no Facebook da IlustrA na última quarta-feira (29). O Elfo Livre aproveitou a oportunidade on-line para perguntar ao G. Profeta sobre a intenção metalinguística da obra, ao qual revela ter sido um dos grandes pilares para Projeto Hibakusha, com um jornalista como personagem para cumprir sua função:
"Era uma ideia desde o começo que fosse não uma reportagem sobre os sobreviventes da bomba atômica, mas uma reportagem sobre a reportagem sobre os sobreviventes da bomba atômica. [...] Tradicionalmente, se a gente pensar no discurso jornalístico, o jornalista é um narrador que se esconde atrás do texto [...] porque a ideia é que os fatos falem por si mesmo", Profeta continua, afirmando que Projeto Hibakusha foi criado para que possa "ser utilizado para discutir alguns questões do que o jornalismo é, do que ele deveria ser, do que ele pode ser e de como ele está mudando."
Apesar de um tema tão tenso quanto a Segunda Guerra Mundial, não há espaço para vingança em Projeto Hibakusha: seja na fala dos entrevistados ou na interpretação dos autores, o sentimento é de anti-guerra e de espalhar este conceito pacífico aos seus leitores para que não se esqueçam das atrocidades dessa época, de modo que a história jamais se repita. わすれないで (wasurenaide: não se esqueça, em português), lê-se no lindo marcador que acompanha a edição física.
A obra foi lançada de forma independente após um projeto bem sucedido de financiamento lançado pelo Catarse: foram 260 pessoas que ajudaram Projeto Hibakusha a ganhar vida dos papéis e, com 178% de meta, transformou-se em um verdadeiro sucesso. Àqueles que não adquiriram a obra pelo Catarse poderão comprá-la pela loja virtual Vitrine da Li ou conversando diretamente com os autores.
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