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Paradise Hills: distopia feminista traz visual incrível, mas peca no roteiro


Paradise Hills (Presas no Paraíso) é um filme de 2019 com grande elenco feminino e direção de Alice Waddington: com seu cunho distópico feminista, visual arrematador e uma direção de arte incrível, o projeto tinha tudo para entrar para a história, mas pecou por um roteiro subdesenvolvido.

A trama se ambienta em um futuro pouco distante para contar a história de Uma (Emma Roberts), uma jovem rebelde que é levada a um internato luxuoso para aprender boas maneiras, mas o instituto esconde um segredo e tanto de como esse processo é realizado: sem spoilers para não estragar o plot twist, um dos pontos altos da narrativa.


Com pouco mais de uma hora e meia de duração, todos os acontecimentos foram rápidos demais, passando ao público a indesejada sensação de superficialidade, como se o roteiro tivesse medo (ou preguiça) de se aprofundar, sempre apressado para chegar logo ao seu desfecho e sem perceber que estava deixando coisas importantes para trás.

Talvez a perda mais dolorosa tenha sido a da divisão de classes: sabe-se que há os Superiores e os Inferiores, os ricos e os pobres, e em certa cena o filme cita Admirável Mundo Novo, como se comprovasse sua inspiração, mas peca absurdamente ao não se aprofundar em um tema tão rico e interessante.


Como as classes são definidas? É impossível trocar de classe? Como vivem os Inferiores? São inúmeras perguntas que o filme busca responder em um único diálogo no fim da trama, agindo sob um manto de suspense que só tem a atrapalhar: deveria ter sido dada a devida importância para assunto, uma vez que ele é essencial para definir a vida dentro deste universo distópico. Mas as falhas não param por aí.

A história é permeada por romances relâmpagos que não cativam o público, já que não conhecemos muito bem as personagens ou seus anseios — erro de uma trama que se preocupou somente com a protagonista e não forneceu ao público informações suficientes sobre secundárias mais interessantes que Uma, como Yu (Awkwafina), Chloe (Danielle Macdonald) e Amarna (Eiza González).


Apesar do elenco diverso em etnias e formas, é difícil falar de representatividade em uma história que não se aprofundou tanto no plano de fundo de suas personagens, mas ela ainda está lá: a gordinha que sofre bullying, a asiática que não se encaixa nos padrões da família. Mulheres reais com quem o público poderia ter se conectado, mas que ficaram distantes devido a falta de tridimensionalidade em suas descrições. 

Mesmo a Duquesa, vilã interpretada por Milla Jovovich, deixa a desejar em sua construção: desde o início sabe-se que ela não é flor que se cheire devido aos estereótipos distópicos de que a líder de um instituto sempre tem uma jogada indecente na manga, mas seu fim é tão grosseiramente apresentado que parece até falso. Faltou algo para levantar os ares.  


Talvez o pecado de Paradise Hills seja a falta de compreensão quanto a mídia necessária para sustentar essa história: um universo tão complexo não conseguiu se explicar em um filme de uma hora e meia de duração, mas talvez tivesse conversado melhor como o público no formato de minissérie.  

É inegável, entretanto, a beleza física do filme, cujo principal atrativo é seu grande apelo estético: jardins paradisíacos sempre rendem bons cenários, aliado às vestimentas vitorianas e o uso extremo de tons pastel criou um conjunto visual muito bem-vindo para dar os ares luxuosos e oníricos da trama distópica que esconde a podridão do instituto em sua perfeição estética — mas aparência não faz roteiro, infelizmente.
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