Parasita, popular filme sul-coreano de 2019, foi sucesso no mundo todo e até venceu o Oscar de Melhor Filme (e mais três troféus na premiação), mas há muitas passagens do filme que não foram completamente compreendidas pelo público internacional. Uma delas é a referência à loja de bolos taiwaneses.
Os bolos taiwaneses foram uma grande tendência na Coreia do Sul há alguns anos, com alta em 2016. Esse bolo parece uma espécie de esponja, bem grande, amarelado e macio, ganhando também o nome de "Castella gigante". A receita é típica de Taiwan e sua textura fofinha, ao lado de sua aparência super Instagramável, fez com que os bolos caíssem no gosto dos coreanos.
Se você já viu alguns dramas coreanos, deve ter percebido que as franquias de restaurantes são muito comuns por lá, e sempre que algo fica em alta na internet os empreendedores agarram a oportunidade de abrir mercado. Entretanto, ao contrário dos sanduíches deliciosos do Subway e outras marcas que aparecem nas telinhas (e de fato existem a cada esquina na Coreia do Sul), algumas coisas acabam se desatualizando muito fácil. Como os bolos taiwaneses.
Assim como os "bolos de vidro" já foram tendência aqui no Brasil há alguns anos, mas hoje estão esquecidos nas confeitarias, os bolos taiwaneses também não sobreviveram à febre das redes sociais na Coreia do Sul e, eventualmente, foram deixando de serem consumidos em grande escala. O problema é que isso também atrapalhou na economia do país, já que muitas lojas especializadas nesse tipo de bolo abriram durante a sua alta e, consequentemente, tiveram de fechar as portas quando a tendência passou. E é aqui que a história real se conecta com Parasita.
As lojas de bolos taiwaneses são citadas duas vezes no filme: uma vez o senhor Kim Kitaek conversa com seus filhos sobre suas experiências profissionais anteriores, revelando que trabalhou em uma confeitaria taiwanesa. A segunda citação foi pelo Oh Geunsae que, escondido no bunker dos ricos, relembra como se tornou endividado quando sua confeitaria faliu.
Essa é uma relação bastante interessante entre as duas famílias, Kim e Oh, que viveram a ilusão criada pelas redes sociais de uma possibilidade de mercado estável que, na verdade, se demonstrou frágil como vidro — ou melhor, como bolos esponjosos. Tanto do lado do senhor Kim, como um assalariado que se viu sem emprego, quanto do senhor Oh, um microempresário que faliu mais rápido do que suas finanças poderiam dar conta, Parasita revela a dura verdade da classe trabalhista: a luta diária pela sobrevivência e os desafios que são encontrados no caminho que, nem sempre, é bem-sucedido.
Por causa de um bolo indesejado pelo público, ambos se tornaram parasitas.
Fonte: Lewis Lee
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