Publicado no Brasil pela editora Darkside com uma maravilhosa edição em capa dura, O Príncipe e a Costureira (The Prince and the Dresmaker) é o mais recente sucesso de Jen Wang, que cresceu lendo mangá e hoje é uma cartunista e ilustradora conhecida por In Real Life e Adventure Time with Fionna and Cake: Card Wars. A tradução é de Vic Vieira.
Na trama, o Príncipe Sebastian gosta de usar vestidos, mas precisa manter segredo de sua família conservadora real, muito ocupada em encontrar-lhe uma namorada para que eles possam assumir o trono. Seu destino muda quando ele conhece Frances, uma jovem muito talentosa com linhas e agulhas, mas subestimada em seu atual emprego. Ele a contrata para fazer seus vestidos luxuosos, mas acaba ganhando mais do que uma costureira.
É sob os vestidos tecidos por Frances que Sebastian encontra sua felicidade como Lady Crystallia, o ícone fashion da capital da moda, mas para proteger o segredo do príncipe ela também terá de viver nas sombras. Por quanto tempo eles aguentarão essa mentira — e será a amizade deles capaz de sobreviver a isso?
O enredo é uma verdadeira história de identidade e aceitação, como muito bem descreve a sinopse oficial de O Príncipe e a Costureira. Você só descobre sua identidade quando é livre para experimentá-la, e ambos os personagens estão passando por momentos de redescobertas pessoais em suas vidas, onde também perceberão que viver escondendo sua verdadeira face é muito mais difícil do que parece.
O Príncipe Sebastian é um personagem de extrema importância, lutando contra o conservadorismo de uma Paris real, desafiando a intolerância e os limites da moda e de gênero, mas Frances não fica atrás e entrega uma figura feminina que sabe se impor, se valorizar e honrar as causas que defende, sempre em busca de melhores condições de trabalho para mostrar seu talento.
Levando em consideração a época em que se ambienta, a trama não é lá das mais realistas, mas quem liga? Uma boa ficção sabe brincar com o relógio e, ainda que não seja uma obra de fantasia, a HQ trabalha perfeitamente bem com o imaginário dos personagens e do leitor, nos levando a um "felizes para sempre" que vai além de um casamento real, mas de encontrar a felicidade em si mesmo. O Príncipe e a Costureira é um excelente conto de fadas contemporâneo. Mas sem as fadas literais.
O traço coopera neste sentido: Jen Wang é positivamente exagerada em sua arte, aproveitando o melhor da exuberância parisiense para entregar cenários luxuosos e vestes que parecem saídas de um episódio de RuPaul's Drag Race. É impossível não suspirar fundo com cada belo vestido ou salão, muito bem representados nas páginas da HQ.
As cores também marcam uma forte presença não só pela obra ser totalmente colorida, mas por transformá-las em quase personagens, como se gritassem na explosão de cores da passarela e ficassem mudas no intrigante fosco dos segredos, trabalho impecável de contrastes em harmonia ao enredo. É como se as cores fossem pequenas fadas madrinhas figurativas que ajudam os personagens a descobrirem sua identidade, esta muito mais colorida, complexa, plural e válidas do que qualquer guia Pantone possa apresentar.
Não é a toa que com O Príncipe e a Costureira, Jen Wang foi vencedora do Eisner Award em 2019 nas categorias de melhor publicação juvenil e melhor roteirista/desenhista, também levando para casa os prêmios de melhor álbum juvenil, no Angoulême 2018, e de melhor livro juvenil no Harvey 2018. A HQ é realmente uma obra de arte que merece não só ser lida, mas aclamada.
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