John Green, autor de livros populares e extremamente aclamados entre o público jovem, possui um divisor de opiniões em seu currículo: O Teorema Katherine. Publicado no Brasil pela Intrínseca, é o livro do autor com pior avaliação em sites como Skoob e Good Reads, e não entendo o porquê.
O livro nos apresenta a Colin Singleton, rapaz que sempre se apaixona por garotas chamadas Katherine — casos que, em todas as 19 vezes, terminaram com ele levando um fora. Ele é um prodígio tentando evoluir para a posição de gênio e acredita que seu novo projeto dará a ele o devido reconhecimento: um teorema capaz de prever quando um namoro vai acabar, apelidado de O Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines.
Enquanto acompanhamos o personagem principal tendo se provar para o mundo, mas principalmente para si mesmo, a história passa por seus dramas românticos, traumas de infância, incertezas sobre o futuro e um linguajar nerd que pode não agradar a todos os leitores por ser um pouco difícil e por vezes até cansativo, mas que eu confesso ter sido uma das minhas partes preferidas dessa obra.
As notas de rodapé, tidas como desinteressantes em muitas das resenhas que li, são o que me causam interesse em O Teorema Katherine. Colin, apesar de muito inteligente, tem dificuldades de socialização e nem tudo o que ele fala pode ser considerado legal para uma conversa casual, ao qual seu amigo Hassan fica encarregado de avisá-lo. Mas, pelo contrário, me fascina a forma como Colin se anima falando dos assuntos que gosta e domina, ainda que eu não entenda metade do que está sendo dito. As notas de rodapé complementam suas falas cortadas, como se estivéssemos entrando de cabeça no pensamento constante do personagem.
Pensamento esse, aliás, que nem sempre é tão correto: para qualquer um, a resposta para a pergunta do título desta resenha é óbvia. O amor não é matemático. Não existe fórmula para isso, tampouco uma maneira de prever o futuro de uma relação. No entanto, toda essa obviedade não é não nítida para Colin, que se afunda em seus teoremas, ao que domina, para tentar entender o amor, algo que foge de seu controle — e de todos nós, sejamos sinceros.
Ele é um personagem adolescente, inocente e em constante processo de (re)descoberta, uma vez que percebe que tudo aquilo que ele cresceu ouvindo a seu respeito não é uma verdade absoluta e que, hoje, na adolescência, seu título de criança prodígio não surte tanto efeito em comparação aos seus feitos recentes não tão exímios assim, o que o faz tecer uma interessante comparação entre o que é ser prodígio, o que ele é, e o que é ser gênio, o que ele não é. Além da ideia de ser um Terminante ou um Terminado, essencial para o seu teorema.
Esse não é o único jogo de palavras da obra: além dos teoremas, Colin também domina os anagramas, a arte de achar palavras dentro de outras palavras e, com elas, formar não só significantes, mas significados, com frases que tenham sentido e efeito. Trabalho nada fácil para a tradutora Renata Pettengill, que comenta:
"Assim que iniciei os trabalhos, sempre que deparava com uma palavra, uma frase, ou um nome próprio que o John havia anagramatizado no original, eu pegava a palavra ou a frase equivalente em português (ou o nome em questão) e UMA ILHA, AFINAL, PAZ com possibilidades de anagramas na nossa língua gerados pelo site, e outros gerados por mim, para escolher a melhor opção entre as que faziam sentido no contexto da história. TÁ DE BARULHO, mas foi muito divertido!"
Em maiúsculo, usa anagramas para "fiz uma planilha" e "deu trabalho", colocando em prática seus novos dons em texto escrito para o blog da Intrínseca, em 2013. E, dando continuidade a essa divertida brincadeira com as palavras, O Teorema Katherine é um livro ASCENSIONAL e sua leitura pode até parecer difícil e cansativa, mas é SECA SENIL para fãs de John Green e, definitivamente, ANDANTE CARO. Consegue desvendar esses anagramas?
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