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Crítica | Segredos de um Escândalo é um show de atuações e desconforto

Crítica | Segredos de um Escândalo é um show de atuações e desconforto

Segredos de um Escândalo (May December) é um dos grandes filmes desta temporada de premiações. Dirigido por Todd Haynes, do aclamado Carol (2015), o filme estreou em 18 de janeiro nos cinemas do Brasil, carregando um grande show de atuações em uma história desconfortável e metalinguística

Na época, Gracie, de 36 anos, mantinha relações com Joe, de apenas 13. Mesmo após ser presa, eles continuaram juntos, e hoje são casados com três filhos. Enquanto conhece a história de Gracie para interpretá-la no filme sobre o caso, Elizabeth percebe como os abusos feriram várias pessoas ao redor da mulher, em especial Joe, que teve sua adolescência roubada.  

A trama é inspirada na história real de Mary Kay Letourneau, uma professora que abusava de um aluno da sexta série no ano de 1996.  Grávida de sua vítima, foi presa sob acusação de estupro de menor em segundo grau. Após a condicional, voltou a se encontrar com a vítima e eles se casaram em 2005, matrimônio que durou até o ano de 2019. Kate faleceu no ano seguinte.  

Com ênfase dramática, Segredos de um Escândalo não se entrega ao true crime. Em vez de romantizar a criminosa, a escolha do roteiro de contar a história sob o ponto de vista de uma atriz é até uma autocrítica à indústria cinematográfica e seus sensacionalismos. No papel de Elizabeth, Natalie Portman brilha na linguagem metalinguística e nas próprias contradições de sua personagem, que ao mesmo tempo em que se horroriza com os fatos que vivencia, também se deleita da oportunidade de dramatizá-los em um bom filme.  

Julianne Moore, igualmente incrível como atriz, entrega a complexidade de uma personagem extremamente manipuladora, que tenta o tempo todo convencer as pessoas ao seu redor de que ela é boa, pura, ingênua. Ingenuidade essa inexistente, exceto talvez em Joe, brilhantemente interpretado por Charles Melton, que cresceu muito desde seu trabalho em Riverdale

Crítica | Segredos de um Escândalo é um show de atuações e desconforto

O ator conseguiu transmitir em cena toda a linguagem corporal de uma criança de 13 anos presa em um corpo adulto, forçado a crescer antes da hora e que nunca pôde, de fato, ter a sua própria identidade. É tão adolescente quanto seus filhos, que têm a metade de sua idade. É doloroso de assistir, mas só comprova como sua performance foi notória. 

Apesar das excelentes atuações e da abordagem certeira para criar esse sentimento de desconforto e repulsa no espectador, as escolhas estéticas do filme incomodam, com uma trilha sonora muito exagerada que faz os momentos chave perderem o charme, bem como o jogo de câmeras em o travelling in e out que acompanha essas cenas. 

Tratando-se de um filme metalinguístico, que conversa com o cinema independente em seu enredo, tais escolhas parecem fazer sentido para passar ao espectador essa sensação de caseiro, amador, mas é algo feito de modo tão descarado que não encanta.

Isso, talvez, justifique as falta indicações de Segredos de um Escândalo às categorias técnicas do Oscar, uma vez que o longa conseguiu figurar somente entre os cinco preferidos a Melhor Roteiro Original, pelo texto brilhante de Samy Burch e Alex Mechanik. No entanto, com atuações tão bem executadas, chega a ser decepcionante não ver Portman ou Melton entre os indicados. 

O filme merecia um cuidado maior em seu apelo estético e sonoro, e é uma pena que tenha seguido por outras direções, mas a natureza desconfortável de sua trama e o grande desempenho do elenco conseguem garantir que Segredos de um Escândalo tenha um resultado geral acima da média e faça jus às duas horas que o espectador desprenderá para assisti-lo. Deixa um gosto amargo pelo tema pesado e caráter reflexivo, mas satisfaz como espetáculo. 

Nota final: ★★★★☆

Fotos: Divulgação/Diamond Films 

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